Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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100 things we’ve lost to the internet

Comentário: assunto meio aleatório Data: February 9, 2022 Palavras chave: internet, livro, nostalgia

Uma editora do New York Times, em um livro recente, leva leitores em uma viagem nostálgica à era pré-internet, oferecendo uma reflexão profunda sobre as coisas aparentemente triviais que perdemos depois que a internet dominou as nossas vidas.

Quantas coisas não existem mais nas nossas vidas depois da internet? Será que você lembra de como as coisas eram? Uma sessão de nostalgia pras nossas mentes mergulhadas na era digital.

Bom dia ouvintes da CBN,

Pamela Paul, uma norte-americana de 50 anos e editora-chefe da seção de livros do The New York Times, publicou no ano passado, em Outubro, o livro 100 coisas que perdemos para a internet, para tentar entender por que “viver o momento” e 99 outras coisas que nós perdemos com a internet — a obra, por enquanto, só está disponível em inglês.

O livro fala sobre sensações perdidas como “estar atento” às coisas, sentimentos como o “tédio” ou mesmo virtudes como a “paciência”, mas também há muitos objetos, como a “enciclopédia”, o “telefone na cozinha”, “o porta-cartões de visitas” ou os “cartões de aniversário”.

A autora diz que o livro não é para se lamentar sobre um mundo que desapareceu. Afinal, a internet mudou muita coisa pra melhor. Como pensar na pandemia e o confinamento sem internet? Salvou nossas vidas, não é mesmo?

No livro, a autora tenta nos incutir a ideia de fazer uma pausa, para tentar entender como a realidade tecnológica se desdobrou para chegarmos neste pronto. Um exemplo que ela coloca: “Posto uma foto no Instagram e muita gente gosta e me sinto muito bem. Mas paro um minuto e penso: ‘não é triste também?’. O que me fazia sentir bem desse modo antes? Isso é informação: de onde eu a tirava antes, vivia sem ela, vinha de outro lugar, como mudei para receber esse tipo de informação, preciso dela agora?”.

Eu li o livro, e ele me trouxe sensações inesperadas, de coisas que sumiram e que realmente a gente esqueceu. Existem capítulos mais ou menos previsíveis no livro, mas ver todos os 100 juntos com explicações que variam de uma a três páginas é impactante. Sobre as férias, por exemplo, a autora diz: “Quando você saía de férias há 20 anos, ao voltar tinha algumas cartas na caixa do correio, alguns recados na secretária eletrônica, no trabalho havia alguma coisa sobre a mesa, e isso era tudo. Agora é como ter hordas esperando na porta, você viu aquela mensagem, que reação você tem a essa foto, você tem 36 notificações, um montão de gente querendo se conectar com você no LinkedIn, Snapchat, Instagram. É incansável”, explica.

Paradoxo de escolha

Tem um ponto interessante, sobre o paradoxo da escolha, sobre todas as opções oferecidas pela tecnologia, com tudo assim, ao nosso alcance, na distância de um clique.

Diga-me você, ouvinte, o que acontece quando você abre o Netflix, ou o HBO Max, querendo ver algo mas sem saber bem o quê. Eu e um monte de gente que conheço ficamos girando pra cá e pra lá, conferindo as opções, sem nunca escolher nada, até cansar e ir fazer outra coisa. É muita escolha! E, nós, os ansiosos, ou seja, o mundo inteiro praticamente, sempre vai achar que a escolha é um compromisso terrivelmente pesado pra assumir — se escolher uma série, você estará perdendo outras que podem ser melhores.

A autora do livro diz que não assina serviços de streaming, apenas aluga DVDs, sempre quatro por vez — coisa que já fica meio difícil, pois ninguém mais usa DVD, e quero ver você achar algum serviço de aluguel. Ela garante assim ter apenas quatro opções a cada momento. Ela diz preferir restringir a seleção e não gastar todo esse tempo rolando canais; é esse tipo de decisão consciente que ela pede que seus leitores avaliem.

Ela também quer que entendamos que a tecnologia não é natural nem inevitável. E que pode ter nos tirado ou limitado coisas que eram boas. “Internalizamos a mensagem da indústria de que, se não adotamos ou usamos essa tecnologia, o problema é você, não o produto”, diz ela, lembrando que as grandes tecnológicas são antes de tudo um negócio, que está lá primariamente para nos vender coisas.

Lendo isso, lembrei de coisas como cartas. Aquelas que enviávamos pelo correio, com notícias, eventos, reflexões pessoais. Interessante como muitas coisas na história só sabemos através das cartas que personalidades enviaram para outras pessoas. Aí, como seria no futuro? Quando quisermos saber que mensagens foram escritas, precisaremos ter acesso a contas no Gmail?

A autora também traz uma preocupação bem condizente com o estado atual das coisas: o sentimento das novas gerações de terem suas atividades permanentemente gravadas na internet; um medo constante de que qualquer erro ou indiscrição seja lembrado para sempre. Acho que é fácil detectar esse sentimento nas pessoas, de estar arriscando menos, por segurança, sob o terror da ameaça que um erro aconteça. Não sabemos bem o efeito disso sobre as pessoas que amadurecem em um ambiente como esse.

Sobre nossa relação com as notícias. Em vez de ler o jornal no sábado de manhã, agora passamos a consultar uma rede social onde milhares de desconhecidos ou meio conhecidos gritam seus pensamentos. A autora acredita que nossos corpos não se adaptaram às reações que o mundo de hoje nos pede: “Há uma espécie de defasagem, nossos corpos e mentes ainda não captaram esse novo metabolismo”, diz.

Por exemplo, quando você descobre que alguém não muito próximo morreu. Mas aí logo esquece: “Muitas vezes eu percebo que esqueci completamente que o tio de tal pessoa tinha morrido porque aconteceu há seis horas e depois disso 30 outras coisas ocorreram. É uma chicotada constante de atenção emocional. É esgotador. Temos tantas reações emocionais porque há tanto a que reagir que é difícil a gente se recuperar no final do dia”, afirma.

Mas, como era antes? Fica claro que era mais silencioso, mas, era melhor? Quem se lembra da sensação de não carregar um celular no bolso?

Hoje, por exemplo, é muito difícil “se perder”, que é o título de um dos capítulos do livro. Mas é melhor nunca se perder, a lógica parece dizer. E ainda há alguém que possa citar alguma recordação magnífica por ter se perdido em outra cidade? Não ouvimos mais, as orientações de alguém que sabe como chegar a um lugar ou de quem conhece uma cidade. Você se lembra da sensação de se reunir com amigos e ter alguém dizendo ‘Não, Fulana e Sicrano estão fora’? Eles estavam fora dos planos, você não deveria se preocupar com eles, eles estavam fora. Agora ninguém está fora. Você continua ouvindo tudo sobre Fulana e Sicrano. Haverá notificações, eles nos escreverão, ninguém nunca sai de cena.

Agora, ela diz, “é bom chegar atrasado”. Não é mais indelicado porque dá a você um pouco mais de tempo para ficar sozinho com seu celular. Coisas novas se cruzam e é difícil avaliar a perda. Desde a espera do lançamento de um novo álbum ou filme ou a hora da série ou do noticiário na TV (a paciência!), o contato visual, chegar tarde para atender o telefone e não saber quem era ou passar bilhetes em papel na escola.

Reflexões finais

O livro é uma avalanche de nostalgia reflexiva com o intuito de catalogar um mundo cotidiano que não existe mais e que não voltará. A esperança da autora é que tenhamos consciência disso e recuperemos pedacinhos que contribuíram com algo. Não é fácil: quem quer viajar sem o celular deve quase renunciar a tirar fotos, ter mapa, mensagens de urgência (quem sabe os números de cor?) ou passagens de avião digitais.

Mas, na realidade, é possível mesmo sair do celular sem se desconectar? Mesmo quando você desliga o celular, sabe que estão chegando coisas e que terá que olhá-las quando se reconectar. Você nunca está completamente livre dessa ideia de poder dizer que está sozinho aí no mundo.

E, para finalizar, outra reflexão: “Na internet nada termina por completo”. Como os ex, que antes sumiam de nossas vidas e agora ainda estão presentes por causa das redes sociais. O último capítulo do livro fala justamente do encerramento ou conclusão, que com a internet nunca é definitivo. O passado sempre nos acompanhará para sempre.

(som de máquina de escrever)

Agora deixa eu terminar de escrever uma carta pra minha mãe na minha máquina de escrever.

um abraço e até a próxima.