Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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5G e aviões - e aí?

Comentário: sugestão de Waleria Data: February 2, 2022 Palavras chave: 5g, antenas, aviação

No meio de Janeiro, o início da implantação do 5G nos EUA provocou o cancelamento de mais de 300 voos em aeroportos americanos. Como a implantação de uma tecnologia pode ser potencialmente perigosa para a segurança dos passageiros?

A implantação do 5G pode afetar a segurança dos aviões? Vamos falar do caso nos EUA que ilustra a possível escassez de certos recursos tecnológicos.

Bom dia ouvintes da CBN,

#noticia da semana anterior…meio de janeiro

No último dia 19 de Janeiro, uma quarta-feira, companhias aéreas de todo o mundo cancelaram ou alteraram cerca de 320 voos para os Estados Unidos; isso aconteceu principalmente com empresas cuja frota inclui aeronaves da Boeing 777.

O motivo de preocupação com a data é que ela representou o começo da implantação do 5G nos Estados Unidos, pelas duas principais operadores de internet sem fio de lá, Verizon e AT&T, em 1700 cidades americanas.

Os cancelamentos incluíram duas companhias aéreas japonesas e a asiática Emirates, além da air India, a aérea Coreana e a de Hong Kong. As companhias brasileiras também fizeram isso com voos que iam para lá.

Os cancelamentos ocorreram mesmo depois que as operadoras disseram que adiarão o novo serviço de 5G perto de alguns aeroportos dos EUA. A FAA, a ANAC americana, liberou várias aeronaves para voar em aeroportos com o sinal 5G, mas o Boeing 777 não consta na lista.

#retomar o que é 5G

Retomando aqui o que eu já trouxe em colunas passadas, a tecnologia 5G é uma evolução significativa da transmissão de dados sem fio, que promete velocidades 100x maiores em relação à velocidade do 4G. As operadoras de celular já começaram a implantar o serviço, principalmente em países do hemisfério norte. No Brasil, com a realização do leilão no final do ano passado, a previsão é de que as capitais recebam o sinal do 5G em dois anos.

#Questão das frequências - espectro eletromagnético

A questão técnica no centro da discussão é a sobreposição de tecnologias; já temos 3G, 4G, transmissão de TV digital e rádio, e agora o 5G. Isso é um problema, pois, o espectro eletromagnético é um recurso escasso e não-renovável, assim como petróleo. O meio por onde essas ondas de dados se propagam é limitado. Por isso que nós temos essa questão da concessão pública, mesmo que seja um espaço público não perceptível por nós humanos. O 5G acaba ocupando ainda mais esse espaço. Quanto mais tecnologias relacionadas a ondas eletromagnéticas forem implantadas, maior será a possibilidade de interferências.

#exemplo dos roteadores wifi, com a frequência 2.4Ghz

Tem um exemplo disso bem comum com o Wifi nas nossas casas. Os roteadores wifi, em sua maioria, operam em uma frequência padronizada de 2.4GHz, em 13 canais. Se dois roteadores em apartamentos vizinhos usarem canais próximos, ocorre uma interferência, que traz perda de qualidade na transmissão de dados. Por isso, em prédios, é sempre melhor usar roteadores mais modernos, com frequência de 5GHz, que oferecem mais de uma centena de canais, para minimizar interferência, com a desvantagem de ter um alcance mais curto. DICA: para ter as duas opções, procure roteadores de frequência dual.

#problema da frequência 5G com instrumentos do avião

Em relação aos dados móveis do 5G, os americanos optaram pela chamada banda C alta, com frequências entre 3.7 e 3.9GHz, que acabaram ficando próximas das frequências usadas pelos radares de altura do controle dos aviões.

Um deles, o altímetro de precisão, utilizado quando o avião vai pousar, é um radar que funciona na frequência de 4 GHz, muito próxima das transmissões da banda C do 5G.

Pilotos dependem do altímetro de precisão para pousar o avião de forma segura, principalmente em condições de baixa visibilidade.

A preocupação é que, dada a vizinhança entre as duas frequências, as ondas de rádio de antenas 5G próximas dos aeroportos poderiam distorcer o sinal do altímetro; por poucos segundos, o piloto pode não receber a informação precisa de altura para pousar.

#problema apenas nos EUA? outros países fizeram o quê?

Mas por que isso aconteceu apenas nos EUA, ao mesmo tempo que o 5G vai sendo implantado em outros países? Em alguns locais, as operadoras operam o 5G numa frequência levemente diferente, que escapa da interferência com as aeronaves. Na União Europeia, por exemplo, a faixa do 5G escolhida é de até 3,8 GHz, o que poderia ser uma boa opção para a operação próxima a aeroportos no mundo todo.

As operadoras brasileiras começam a implantar o 5G a partir de julho deste ano. Especialistas dizem que as normatizações definidas aqui são diferentes das americanas, definindo um intervalo de proteção de frequência maior para que não ocorram interferências.

#o que aconteceu depois da confusão

O que aconteceu enfim, depois da confusão? Depois que a FAA alertou as operadoras, elas adiaram a ativação das antenas próximas a aeroportos. Ficaram elas de estudar duas opções: primeiro, a mudança para frequências maiores de 5G, o que, ao mesmo tempo que aumenta a potencial velocidade, diminui a cobertura, exigindo a instalação de mais antenas; segundo, reduzir a intensidade do sinal em áreas próximas aos aeroportos, solução adotada em áreas da França e do Canadá, mesmo sem mudar a frequência do sinal. Ou seja, deixar ele um pouco mais fraco.

#reflexão

Mesmo que o risco de interferência seja baixo, estamos aqui falando de segurança de voo e o potencial perda de vidas humanas. A implantação de qualquer tecnologia não pode representar esse tipo de risco, por maiores que sejam os benefícios.

Podemos fazer um paralelo entre a limitação do espaço de ondas de rádio com a escassez de semicondutores que vem assombrando a indústria de chips há dois anos, esta também causada, em parte, pela escassez de recursos, no caso água (necessária na fabricação de chips) e pessoas especializadas na fabricação.

Recursos relacionados à tecnologia, assim como a natureza, não são infinitos. Isso deve ser levado em conta, por mais inesgotável que pareça ser o mundo virtual em que nos conectamos diariamente.

Um abraço e até a próxima,