Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Demissões nas startups de tecnologia

Comentário: notícias recentes Data: June 29, 2022 Palavras chave: Tecnologia, jobs, startup

As startups de tecnologia, que estavam contratando sem parar, andam demitindo em massa. Será que o setor de tecnologia parou de crescer, depois do crescimento durante a pandemia?

O mercado de tecnologia têm sido notícia por motivos diversos dos observados nos últimos dois anos. Agora startups, que até outro dia estavam desesperadas por contratações, têm demitido grandes grupos de funcionários de uma só vez. Vamos discutir as razões para tal mudança de rumo, e as perspectivas para a carreira em um cenário de crise como o atual.

Bom dia ouvintes da CBN,

Um ex-funcionária, programadora, diz que a empresa marcou de última hora uma reunião por vídeo com 36 funcionários. Foi onde eles comunicaram a demissão em massa de todos os participantes da reunião.

Segundo ela, o dono da empresa, uma startup brasileira de tecnologia, explicou que um grande investimento esperado não aconteceu e, por conta disso, e das mudanças do mercado, a empresa estava mudando seu modelo de negócios.

O depoimento da ex-funcionária, que prefere manter o anonimato, se soma ao de centenas de colaboradores recentemente demitidos dos unicórnios brasileiros — startups avaliadas em pelo menos 1 bilhão de dólares. E reflete o cenário de todo o setor de tecnologia. Tanto em empresas de capital aberto quanto em privadas, os investidores estão escassos e a busca pela “eficiência” virou um mantra.

Como captar com investidores ficou mais caro e mais difícil, as startups estão controlando os gastos e colocando rentabilidade como objetivo. Infelizmente para seus funcionários, essa virada de chave acontece depois que muitas tiveram um grande crescimento durante o auge da pandemia – e decidiram expandir a equipe.

O principal caso de demissões entre os unicórnios brasileiros foi o da Facily. A empresa de compras de supermercado em grupo captou mais de US$ 500 milhões ao longo de seus três anos de história, e alcançou uma avaliação de mercado bilionária em sua última captação, anunciada em dezembro. Mesmo assim, a companhia teria demitido entre 300 e 400 funcionários em abril deste ano, de um quadro total de 800 a 900 funcionários. A startup também teria encerrado contrato com uma empresa terceirizada, que tinha 900 pessoas dedicadas para atendimento e suporte logístico aos consumidores da Facily.

A demissão relatada pela programadora é uma de centenas que têm sido feitas nos últimos meses pelas startups brasileiras, em uma onda que afeta também outros países.

Entre as empresas novatas que demitiram em massa recentemente no país estão, além da Facily, Kavak, Vtex, Favo, QuintoAndar, Loft, Mercado Bitcoin, Zak e Sanar, entre outras. Todas dispensaram dezenas, e em alguns casos até centenas, de funcionários ao longo do primeiro semestre de 2022.

A startup Zak, de gestão de restaurantes, por exemplo, anunciou para seus funcionários em 13 de maio, em uma reunião por vídeo, que um investidor havia voltado atrás num aporte de recursos e que, por conta disso, a empresa iria demitir 40% do quadro.

Há relatos de funcionários contratados há uma semana que foram demitidos. Ou seja, até a virada da chave, as empresas estavam em modo ativo de contratações.

Empresas de tecnologia estão anunciando demissões e congelamento de contratações não apenas no Brasil. Segundo a empresa de dados em tecnologia Crunchbase, houve 43 reportagens sobre demissões na primeira semana de maio nos Estados Unidos.

Entre as companhias que fizeram demissões nos últimos meses está a gigante do streaming Netflix (NFLX34), que anunciou 150 funcionários demitidos. A Meta (Facebook, FBOK34) anunciou um congelamento de contratações em engenharia até o final do ano devido a uma “queda generalizada” na indústria, enquanto a Uber (UBER) afirmou que fará contratações menores e mais seletivas, diante de uma “mudança sísmica” no mercado.

O curioso é que isso acontece em meio a um momento bom para o mercado de trabalho em geral nos Estados Unidos. A economia americana adicionou 428 mil novas vagas de emprego em abril, superando estimativas do mercado.

Houve uma mudança de cenário brutal para as empresas de tecnologia entre 2021 e 2022. As empresas conviviam com baixas taxas de juros e consumidores muito dispostos a experimentar produtos e serviços, um contexto que também atraiu investidores. Por exemplo, no Brasil as startups de base tecnológica captaram ano passado 218% mais do que 2020.

Em 22, o cerco apertou. Governos de diversos países aumentaram suas taxas de juros, inclusive o Brasil. A renda fixa passou a ser uma aplicação mais atrativa e segura para muitos investidores, ainda mais diante de instabilidades como o conflito entre Ucrânia e Rússia. O cenário afugentou o capital de risco, diminuindo a chance ou o tamanho da próxima captação de todas as empresas.

Com menos recursos para o financiamento de novos ciclos de crescimento, as empresas acabaram optando por uma mudança de rumo que abrange revisão de projetos e contenção de despesas, que inclui os cortes com pessoal. E, pelo menos por enquanto, a priorização do ritmo de crescimento parece estar sendo substituída pela do foco em resultados sustentáveis.

Ou seja, enquanto antes valia mais a pena crescer do que ser lucrativo, porque existiam investidores dispostos a bancar esse crescimento, mesmo com caixa negativo, agora isso não é mais verdade.

Mesmo com os anúncios de demissões em alguns unicórnios, há analistas que defendem que tanto grandes empresas quanto as startups em estágio inicial seguirão contratando.

Ainda há uma falta grande de pessoas em diversas posições nas empresas de tecnologia.

Assim, prevê-se que funcionários demitidos devam conseguir uma recolocação rápida, seja nessas startups ou em grandes empresas que procuram esse perfil de profissional qualificado e com essa experiência.

Depois do boom de contratações na área, era esperado que viesse esse período de ajustes. O setor continua sendo atrativo, de qualquer forma.

um abraço e até a próxima.