Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Games, mercado e Aquisições

Comentário: notícia da microsoft comprando blizzard Data: January 26, 2022 Palavras chave: microsoft, playstation, videogames, xbox

A indústria dos videogames surpreende ao unir fabricantes de consoles e criadores de jogos em aquisições e contratos de exclusividade. Como vai funcionar o mercado de videogames depois que a Microsoft comprou a Blizzard?

Videogames juntam arte e tecnologia para atender milhões de jogadores no mundo todo; esse mercado de videogames gigantesco tem sido agitado por fusões e aquisições que podem mudar a forma como jogamos videogames.

Bom dia ouvintes da CBN,

#notícia-microsoft compra activision blizzard

A Microsoft, a empresa que fabrica o console de videogame Xbox, fechou acordo na semana passada para adquirir a produtora de videogames Activision Blizzard por 75 bilhões de dólares — cerca de 414 bilhões de reais, na maior transação já realizada pela empresa fundada por Bill Gates. O negócio também é o maior da história da indústria dos videogames.

A Activision Blizzard é um desenvolvedor/publicador de jogos eletrônicos, a criadora de games como “Call of Duty”, “Warcraft” e “Candy Crush”.

E por que eu resolvi comentar essa notícia aqui? A indústria de games é gigantesca, e falar em tecnologia hoje seria incompleto sem falar deles.

Se antes da pandemia o crescimento do segmento já estava acelerado, com ela a alta ganhou ainda mais velocidade.

Antes das redes sociais, podíamos dizer que a porta de entrada na informática para os jovens eram os jogos de videogames. Mesmo depois, os jovens muitas vezes usam as redes sociais para falar de jogos!

E os jogadores têm se engajado bastante em jogos online, com amigos ou desconhecidos. A maioria dos jogos hoje promovem modos multijogador, através de conexões internet.

Estima-se que mais de 70% dos brasileiros são adeptos a jogos eletrônicos – um público 7% maior do que o registrado em 2019.

Entre os jogadores, 67% se consideram gamers casuais, sem uma rotina de jogos tão frequente. Já 33% se consideram gamers hardcore, jogando três ou mais vezes por semana.

Aqui, o mercado de jogos faturou coisa de 2,3 bilhões de dólares em 2021, o que nos coloca como o país líder em receita no setor na América Latina e o 12º no ranking mundial.

Para o mundo todo, consultorias especializadas no mundo todo dão conta de que o setor vai crescer quase 10% até 2023, superando a receita de 200 bilhões de dólares por ano.

#consoles

Pra quem não conhece, o mercado de fabricantes de consoles — os aparelhos que tradicionalmente de videogames, também conhecidos como plataformas— inclui 3 grandes empresas: Microsoft, com o Xbox; Sony, com o Playstation, e a Nintendo, atualmente com o Switch. Aqui não estou contando com os jogadores de games para computador, que não usam Consoles para jogar.

Na geração atual, já tem um ano que o PlayStation 5 e os novos Xbox Series S e X chegaram ao mercado. Mesmo assim, não se vê muitos por aí ainda, pois os consoles continuam enfrentando uma escassez de estoque devido a crise dos semicondutores e, quando aparecem à venda no varejo brasileiro, o preço é bem alto.

Mesmo com duas reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aplicados a consoles no último ano, o PlayStation 5 não sai por menos de 6000 reais, para o modelo com com leitor Blu-ray Ultra HD. Os valores cobrados pela Microsoft, no caso do Xbox Series X, são um pouco menores, mas nem por isso considerados baixos.

Cada um com sua estratégia, a Sony aposta em lançamentos de jogos exclusivos, enquanto a Microsoft promove serviços de rede como Game Pass e Cloud Gaming, algo como um Netflix de jogos, em que você paga um serviço e tem acesso a mais de 100 jogos.

#game studios

Na história dos videogames, desde o Atari, na década de 80, a tendência sempre foi que as empresas que fabricam os consoles não se envolvessem com a criação de jogos, com a exceção da Nintendo, que quase sempre manteve os criadores de seus próprios jogos sob controle próximo. Esse movimento deu origem a empresas de jogos, que em geral são chamados de estúdios ou publishers, que licenciam suas criações para serem jogados nos consoles. Além do Activision Blizzard, outras empresas são bem conhecidas, como a Epic Games, Electronic Arts e a Mojang.

Pois é nessas empresas onde trabalham as pessoas desenvolvedoras de jogos, as que determinam como o jogo vai funcionar, a história, uma fantasia, uma sequência de lutas, ou um esporte. Uma equipe que desenvolve faz a programação, mas não só isso; cria toda a parte artística, desenhos, músicas…artistas de verdade trabalham nessas equipes. Se você sonha em desenvolver jogos eletrônicos, você terá duas possibilidades: criar seus jogos de forma independente — há vários exemplos assim — ou trabalhar em um desses estúdios.

Para essas empresas, é interessante lançar seus jogos no maior número possível de plataformas, claro, aumentando o potencial de mercado.

No entanto, recentemente, as empresas de console começaram a fazer parcerias de exclusividade com certas criadoras de jogos, ou até mesmo comprar essas criadoras, assim alguns títulos só poderiam ser jogados em algumas plataformas, para incentivar a compra de determinado console. A Microsoft por exemplo, ao adquirir a Mojang em 2014, garantiu a exclusividade do jogo de enorme sucesso Minecraft para os Xbox e computadores com Windows.

No caso dessa última aquisição da Microsoft, as ações da Sony caíram 13%, em meio à preocupação de que os jogos como o Call of Duty sejam retirados dos consoles PlayStation.

A Sony pode estar sob pressão para fazer mais aquisições, e se não houver gargalos regulatórios, a Microsoft poderá perseguir outro alvo em um futuro não muito distante.

Para empresas enormes como Sony e Microsoft, aquisições de estúdios de jogos acabam sendo uma certeza de controle sobre o conteúdo, o que no fim, é o que importa; jogos bons são o que fazem as pessoas comprar consoles.

Quando um estúdio é vendido, além do dinheiro da venda recebido pelos fundadores, ganha-se segurança de que o financiamento será contínuo para a criação de novos jogos. Talvez para os jogadores é que não seja tão bom, pois o console no qual você investe uma boa grana acaba te limitando nos jogos que você pode jogar.

A aquisição representa a maior aposta da Microsoft em vários anos, expandindo o alcance do grupo de tecnologia, forte na computação pessoal e no software de negócios.

Também deve ser um sinal de que as grandes estão já preocupadas com o tal metaverso, e que os jogos apontarão o destino dessa tecnologia de forma significativa, através de dispositivos de realidade virtual. Jogo é a primeira coisa que vêm à nossa mente quando se fala nessas tecnologias.

A Microsoft decidiu levar o negócio adiante mesmo em um momento no qual as ações da Activision Blizzard exibiam queda de quase 30%, desde que um processo judicial foi aberto contra a companhia. Ela demitiu 20 empregados em outubro do ano passado como parte de um esforço para corrigir sua cultura depois de acusações de discriminação de gênero e assédio generalizados. Coisas como funcionários homens bebendo e fazendo piadas machistas, delegando responsabilidades de menor impacto para mulheres.

Nisso a indústria de videogames repete a triste tendência da área de tecnologia de falhar em promover a ética e a diversidade. Tem-se muito a fazer ainda, a despeito de todo o sucesso financeiro que constantemente acompanha essa corporações.

Um abraço e até a próxima,