Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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O Instagram que conhecemos vai acabar

Comentário: notícia recente Data: August 10, 2022 Palavras chave: Meta, instagram, tik tok

Mudanças recentes no instagram foram motivo de reclamações acintosas nas últimas semanas. Mesmo voltando atrás por enquanto, a Meta, empresa que controla instagram e whatsApp, as mudanças devem ser efetivadas num futuro próximo. Por que motivo o estilo “Tik Tok” devem afetar todas as redes sociais que usamos?

Bom dia ouvintes da CBN,

Você deve ter percebido, mais ou menos no meio desse Julho de 2022. O instagram estava sim um pouco diferente.

De um dia para o outro, o número de recomendações de desconhecidos no Feed aumentou de forma assustadora, sobrepondo-se aos conteúdos dos amigos que você segue. E essas recomendações eram na maioria vídeos engajadores em tela cheia. Em resumo, um Tik Tok 2.

%reclamações

Pois é, isso criou um ruído danado, com muita, mas muita gente reclamando. Hashtags de protesto viralizaram. Olha essa reclamação compartilhada milhares de vezes no Twitter: “O novo instagram: nenhum conteúdo dos meus amigos, repostagem de vídeos TikToks com memes que eu não sigo, 100x mais propaganda, tudo tocando no volume máximo contra a minha vontade”.

O furor atingiu o topo quando um famoso fotógrafo pediu, dentro do próprio instagram, algo como faça o instagram instagram de novo”.

Essa postagem tem mais de 3 milhões de curtidas, e foi compartilhada por usuários poderosíssimos da plataforma, como a Kim Kardashian.

Em 23 de Julho, quase 100 pessoas, autointitulados criadores de memes, fizeram um pequeno protesto na porta da Meta em Nova Iorque, o que eles chamaram de instarreição.

Isso rolou até a quinta-feira 28 de Julho, quando a Meta anunciou que estaria diminuindo temporariamente o número de recomendações de desconhecidos no Feed e pausando em todo o mundo o teste de tela cheia no aplicativo. A plataforma diz que tomou essa decisão após ouvir os usuários.

Isso tudo num contexto preocupante para os acionistas da empresa. Esse ano, a Meta anunciou que usuários estavam passando menos tempo em suas plataformas, esperando assim um crescimento menor da empresa, o que fez suas ações cairem 26% em um dia. Há anúncios internos de congelamento de contratações e corte de gastos.

%mas as mudanças são inevitáveis

Mesmo assim, nos bastidores, dizem que as reclamações só atrasam o processo. A mudança do Instagram (e do Facebook como um todo) é inevitável.

O próprio Adam Mosseri, chefe do Instagram, havia publicado pouco antes que o formato audiovisual é uma tendência, e que se o feed estava mostrando coisas que você não queria ver, é porque a recomendação ainda não está tão boa. O Instagram ainda disse entender que as alterações demandam que a audiência se adapte, mas se faz necessário evoluir à medida que o mundo se transforma.

O Instagram e o Facebook estão gradativamente abrindo mão do  chamado grafo social, que diz respeito às pessoas que você se conecta, que decidem seguir você e que você segue. É dessa comunidade que o Facebook e o Instagram estão meio que querendo se livrar. A ideia é que quando você entrar nessas plataformas, o conteúdo que aparece para você não venha mais das pessoas que você decidiu seguir. O algoritmo vai buscar conteúdos produzidos no mundo todo, por pessoas que você não sabe quem é, e mostrar aquele conteúdo para você caso determine que é algo que pode te interessar. Em vez de comunidades, as pessoas tendem a se conectar com quem não se têm conexão direta. Para quem produz conteúdo isso muda muita coisa, pois esses não vão mais falar para uma plateia que é sua. Cada conteúdo que postar vai competir por atenção com outros conteúdos postados no mundo inteiro.

Hoje já recebemos nessas plataformas cerca de 20% de conteúdo que não vem dos seus amigos, mas somente do algoritmo. A tendência é que esse percentual suba. 60%? 80%? Hoje ninguém sabe.

Nesse caso recente do instagram, podemos dizer que parece ter uma divisão entre dois grupos de usuários, o grupo de Tik Tok e o grupo do insta raiz. Esse último parece ter feito mais barulho, e ganhou a batalha, por ora. A questão é que o instagram não liga nem um pouco pra qualquer um desses grupos; em vez disso, a empresa procura a melhor forma de engajar os usuários, incluindo aqueles que se tornam ativos na plataforma a ponto de se tornarem famosos. Nesse ponto, o que vale mesmo é o vídeo. Como o próprio chefe do instagram disse: “uma das nossas funções mais importantes é ajudar novos talentos encontrarem sua audiência.”

As consequências sociais disso podem ser profundas, apesar de ninguém saber bem onde vai dar. O modelo Tik Tok talvez nos isole ainda mais, já que a coletividade digital tende a sumir. Nesse caso, vai importar cada vez menos quem você segue. Mas, talvez, seja mesmo isso que queremos, pois há quem defenda os algoritmos com o argumento de que eles apenas aprendem com o nosso próprio comportamento, com nossos desejos e padrões de uso. Uma coisa é certa: o nosso comportamento online continuará a ser o bem mais valioso no mundo digital, e para conseguir ter acesso a isso, as big techs vão continuar investindo muito dinheiro.

Um abraço e até a próxima.