Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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O lado ruim dos streamings de áudio

Comentário: polêmica com Neil Young, mas foco nos prós e contras dos serviços de streaming Data: February 16, 2022 Palavras chave: podcasts, spotify, streaming

Mesmo oferecendo acesso instantâneo a quase toda a música do mundo, os serviços de streaming podem nos tirar o acesso a nossos artistas preferidos de uma hora pra outra, por causas que fogem do controle do usuário. A polêmica da hora é o Spotify, com boicote de artistas e perdas financeiras recentes. Vamos discutir as plataformas de música por streaming.

Músicas, podcasts…o Spotify tem quase tudo. Mesmo assim, a empresa sofre com polêmicas recentes sobre controle do conteúdo e perdas financeiras. O que isso acarreta para nós usuários de música por streaming?

Bom dia ouvintes da CBN,

Se você quer escutar música hoje, você provavelmente não compra mais discos, e sim assina uma plataforma de streaming, com uma chance maior de ser o Spotify.

Curioso é que comprar discos e CDs agora virou um hobby custoso…é muito mais barato pagar algo entre 30 e 40 reais por mês para ter acesso ao conteúdo digital oferecido pelo Spotify, Deezer, Youtube, Apple music, entre outros.

O Spotify é a empresa sueca líder de mercado de streaming de áudio, com cerca de 380 milhões de usuários ativos em todo o mundo. Detém mais de 30% do mercado - em segundo lugar, vem o Apple Music, com menos de 15%. Por mês, para ter acesso irrestrito ao acervo, você paga por volta de 30 reais; na verdade, todas as plataformas praticam aproximadamente os mesmos preços no Brasil.

Mesmo tendo quase toda a música do mundo na hora que quisermos, podemos ficar sem acesso a nosso artista preferido de uma hora pra outra.

No dia 26 de Janeiro, o músico canadense Neil Young, forte nome no rock e na música folk - não muito conhecido por aqui - teve todas as suas músicas retiradas do catálogo do Spotify. Ah, ele mesmo pediu, e foi atendido.

Bom, esse pedido teve um motivo.

Se você usa o Spotify, você deve saber que hoje, além do catálogo musical, a plataforma oferece podcasts, programas de rádio lançados em episódios que se tornaram imensamente populares nos últimos anos. O Spotify tentou se diferenciar da concorrência contratando, com exclusividade, alguns podcasts de grande audiência; quem quiser ouví-los, tem que usar o Spotify.

Um desses podcasts é de um polemista e entrevistador americano chamado Joe Rogan, contando com uma audiência por episódio de 11 milhões de ouvintes! Ou seja, ele só perde, meus caros, para a audiência do Super Bowl!

Em 2021, seu podcast foi contratado pelo Spotify, por estimados 100 milhões de dólares.

Pois é, a questão é que o Joe andou levando pra entrevistar alguns negacionistas, que nos episódios andaram soltando umas pérolas que, na melhor das hipóteses, podemos chamar de desinformação.

Pois então, Neil Young criticou a complacência do Spotify com a disseminação de informações falsas e desinformações sobre a COVID.

A crítica veio acompanhada de um ultimato: Young diz, ou eu, ou Joe Rogan.

Pela lógica de mercado, adivinha quem o Spotify escolheu.

Aí, o movimento do Neil Young teve apoio de outros músicos, e de uma parte do público também.

A página de cancelamentos do Spotify teve um aumento de tráfego de quase 200%. Ainda não há números confirmados de quantos usuários saíram, mas o valor de mercado da empresa perdeu cerca de dois bilhões de dólares.

O CEO do Spotify soltou um comunicado informando que a plataforma irá começar a adicionar um “aviso de conteúdo” a todos os podcasts que incluem informações sobre a COVID-19, e também que o Spotify está tornando públicas as “regras da plataforma” da empresa.

O podcaster Joe Rogan admitiu que “nem sempre acerta” e prometeu “fazer melhor” nos próximos episódios. Ele se diz fã de Neil Young, e declarou que estava arrependido por ver músicos icônicos deixar o Spotify por sua causa.

Bom, eu gosto de Neil Young, por coincidência, e fiquei muito chateado em ver as minhas playlists que incluíam suas músicas cheias de buracos, que é o acontece com as músicas que saem da plataforma.

Elas ficam cinza, mesmo que listadas.

Minha primeira reação, depois de amaldiçoar o serviço por um tempo, foi pensar em mudar de plataforma. Deixar de assinar o Spotify, e mudar para o Youtube Music, ou o serviço da Apple. Estou testando, mas ainda não cancelei o Spotify. Estou percebendo que a qualidade do áudio parece melhor, são mais dinâmicos os recursos de interação na tela, e estou bem acostumado a usar o plano família, que permite que minha turma aqui de casa tenha suas próprias playlists. Outro problema, criei mais de 50 playlists nesses últimos anos, e teria o trabalho (ou o custo) de transferir essas listas, o que nem sempre funciona bem, já que nem sempre as mesmas músicas estão à disposição na outra plataforma.

Veja como a forma de ouvir música se transformou radicalmente.

Quando eu comprava um disco, ele era meu. Perderia só se o objeto disco desaparecesse, ou se danificasse.

Streaming é o jeito como o modelo de negócios musicais se estabelece hoje, o modo de ouvir música hoje, com exceção dos poucos que podem pagar 200 reais por um disco de vinil, ou 100 reais num CD, que é o que as lojas cobram hoje para os saudosistas apaixonados por música.

No início, ainda tinha muito musico fora das plataformas, pois havia a noção de que ela pagava pouco, e artistas ainda tinham esperança de vender independentemente discos, ou mesmo arquivos digitais. Mas, depois de um tempo, essa ideia não vingou, e praticamente todo mundo se rendeu ao Spotify e a todas as outras.

Parece que eu estou sendo meio ranzinza. Muitas coisas boas vêm com essa nova cultura. O teu acervo de músicas, disponível em qualquer lugar, a qualquer momento. O consumo mais racional de músicas, pois não precisa comprar um disco inteiro por gostar de uma ou duas músicas.

O streaming fornece meios de divulgação para músicos independentes que podem ganhar depois com shows.

Para a indústria, ajudou a diminuir a pirataria que se disseminou depois da internet. Baixar música ilegal já não é mais tão cômodo.

Com isso os artistas voltaram a ganhar bem — talvez não o mesmo que ganhavam antes — e as gravadoras e representantes de artistas ganharam novo fôlego, reavivando a indústria musical. Por esse motivo, não houve um abandono do Spotify em massa de artistas; o dinheiro que a plataforma rende para eles hoje faz grande diferença.

Ainda não sei se vou sair do Spotify de vez. Mas, com essa polêmica, aprendi que, da noite pro dia, meu artista preferido pode sumir do meu smartphone, e aí, paciência. O mercado agora é assim, e pronto.