Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Telefones Burros

Comentário: Matéria do G1 Data: April 13, 2022 Palavras chave: celular, smartphone, vintage

Na coluna de hoje, vamos discutir por que as vendas de celulares básicos, sem aplicativos ou conexão com a internet, estão aumentando.

Logo nesse mundo hiperconectado, celulares sem conexão, vejam só, estão ressurgindo, mesmo em países como EUA e Inglaterra. Por que as vendas de celulares bem básicos, sem aplicativos e conexão com a internet, estão aumentando?

Bom dia ouvintes da CBN,

A BBC, prestigiada agência de notícias britânica, recentemente veiculou uma reportagem sobre um fato a princípio paradoxal, num mundo de evolução tecnológica constante. Falava sobre jovens que não possuem Smartphone por escolha própria, usando para a comunicação nada além de um “telefone burro”.

O Dumb Phone é uma aparelho celular básico, telefones comuns, com funções muito limitadas em comparação, por exemplo, com um iPhone. Tipicamente, você pode apenas fazer e receber ligações e trocar mensagens de texto por SMS. E, se você tiver sorte, poderá ouvir rádio e tirar fotos muito simples, mas certamente não se conectará à internet, nem terá aplicativos. Esses aparelhos são similares a alguns dos primeiros telefones celulares que as pessoas compravam no final da década de 1990.

Os jovens entrevistados na reportagem relatam que a decisão foi tomada de impulso, em que estavam procurando um aparelho substituto em uma loja de telefones usados quando foram atraídos pelo baixo preço de um telefone do tamanho de um tijolo.

Exatamente esse é o motivo por que o público que está sendo atraído para esse mercado. Um dos aparelhos tidos como preferidos do público na Europa, da empresa francesa MobiWire custa apenas 8 libras (algo como 51 reais). E, como ele não tem as funcionalidades dos smartphones, o cliente não precisa se preocupar com contas mensais de acesso à internet com alto valor.

Os telefones “burros” estão ressurgindo. As buscas por eles no Google saltaram em 89% entre 2018 e 2021, segundo um relatório da empresa de software norte-americana Semrush.

Os números de vendas são difíceis de encontrar, mas um relatório afirma que as vendas globais de telefones “burros” estavam a ponto de atingir um bilhão de unidades no ano passado, em comparação com 400 milhões em 2019. Paralelamente, foram vendidos em todo o mundo 1,4 bilhão de smartphones em 2021, após uma redução de 12,5% em 2020. Além disso, um estudo feito em 2021 pelo grupo contábil Deloitte concluiu que um em cada 10 usuários de telefones celulares no Reino Unido tem um telefone “burro”.

Especialistas afirmam que o relançamento do modelo 3310 da Nokia em 2017 realmente incentivou esse renascimento. O aparelho original foi lançado pela primeira vez em 2000, e ainda é um dos telefones celulares mais vendidos de todos os tempos. A Nokia ofereceu o 3310 como uma alternativa acessível em um mundo cheio de telefones celulares muito avançados. Quem teve celulares até 2005 deve lembrar de como os celulares da nokia eram resistentes e altamente populares, contendo os clássicos ringtones e o querido joguinho da cobrinha que não podia encostar nas paredes ou em si mesma.

Obviamente os telefones “burros” não podem competir com os últimos modelos da Apple e da Samsung em termos de desempenho ou funcionalidade, mas eles podem superá-los em questões igualmente importantes, como o consumo de bateria e a durabilidade.

Tem uma outra razão mencionada para o aumento da procura por esses celulares.

Um psicólogo ouvido pela reportagem trocou seu smartphone por um Nokia 3310, inicialmente devido ao seu menor consumo de bateria. Mas ele logo percebeu que havia outros benefícios.

“Antes, eu ficava sempre preso ao telefone, verificando tudo e qualquer coisa, navegando pelo Facebook, pelas notícias ou por outros fatos que eu não precisava saber”… “Agora, tenho mais tempo para mim e para minha família. Um enorme benefício é que não sou viciado em curtir, compartilhar, comentar ou descrever minha vida para outras pessoas. Agora, tenho mais privacidade.”

Muitas empresas que entraram nesse mercado de telefones burros usam como chamativo a ideia de que a vida sem notificações ou redes sociais pode ser bem mais leve, produtiva e feliz. Ou seja, uma forma de fugir do sentimento de sobrecarga que perpassa todas as nossas atividades, desde a manhã até a hora de dormir.

Claro que uma escolha como essa traz alguns desafios. Muitos serviços que usamos no nosso dia a dia dependem de smartphone: marcação de consultas, mapas, reservas de restaurantes, compra de entradas, e serviços públicos. As pessoas que voltam a usar esses celulares mais antigos precisam se readaptar a usar o computador em casa e resolver tudo isso antes de sair, imprimindo comprovantes e coisas do tipo. Também hoje muitos documentos são digitalizados, como carteira de motorista, por exemplo, o que exigiria de um usuário sem smartphone andar com os documentos impressos no carteira, como sempre foi.

E você, toparia largar o smartphone e voltar a se comunicar por ligações telefônicas? Se você escolher trocar seu iPhone ou Galaxy por um telefone assim, vai provavelmente ter que escutar alguém da família ou amigos perguntando, a cada encontro: “E aí, quando você vai comprar um celular decente?” Já vai pensando na resposta.

Um abraço e até a próxima.