Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Alexa é o Fracasso da Amazon

E aquela ideia de que, no futuro, toda nossa tecnologia seria comandada por voz, dentro de casa, no carro, no trabalho? Será que vai se realizar? A Amazon tomou tanto prejuízo com a Alexa que é capaz de abandonar a ideia.

E aquela ideia de que, no futuro, toda nossa tecnologia seria comandada por voz, dentro de casa, no carro, no trabalho? Será que vai se realizar? A Alexa, assistente de voz mais conhecido do mercado, só dá prejuízo, e já tem gente dizendo que a Amazon está pensando em abandonar o produto. Será que há viabilidade comercial para a casa de futuro, controlada pela voz?

Bom dia ouvintes da CBN,

Nessas suas olhadinhas na Amazon nessa última Black Friday, você deve ter visto muitas fotos de promoção de dispositivos Alexa. Descontos de quase 40%, tentando atrair quem quer usar a tecnologia conversando com ela. A Alexa é um dos dispositivos vendidos no varejo que são acionados por voz, aprendendo com o tom de voz e a dicção do usuário. É possível adicionar vários pacotes de funcionalidades modelando de acordo com a necessidade. Pode ser integrada a uma infinidade de dispositivos inteligentes, como lâmpadas, tomadas, fechaduras, videogames, televisões e computadores.

A Alexa foi a primeira a ser disponibilizada como um produto final para o usuário médio, fora de um dispositivo celular e com um “corpo” próprio. No entanto, ela sofre do mesmo problema que seus concorrentes, na Apple e na Google: ela só dá prejuízo. A Amazon é a mais recente gigante de tecnologia a anunciar demissões em massa: 10 mil funcionários estão sendo dispensados, e um dos setores mais afetados é justamente o responsável pela Alexa.

O dispositivo foi lançado em 2014 com o foco voltado para o consumidor, não necessariamente um usuário de smartphone de ponta. O alvo sempre foi o consumidor médio, que saberia muito bem operar um dispositivo por voz, fazendo requisições simples, como pedir informações do clima, da Bolsa de Valores, como está o trânsito no trajeto casa-trabalho, etc. Sendo da Amazon, a Alexa era diretamente ligada à loja virtual, e trazia a novidade de facilitar compras com comandos de voz. Era só o usuário dizer “Alexa, compre o produto TAL”, considerando que a Amazon vende de tudo.

Por mais que a Amazon tenha investido pesado em Pesquisa e Desenvolvimento, para aprimorar ao máximo as capacidades da Alexa, ela nunca deu retorno de lucro significativo, e os dispositivos dedicados a ela são vendidos a preço de custo. Em 2018, 4 anos após lançada, a assistente já havia dado um prejuízo total de US$ 4 bilhões. As coisas começaram a ficar feias em 2022, quando a divisão inteira anotou perdas de US$ 3 bilhões apenas no primeiro trimestre, e a projeção apontava um montante total de US$ 10 bilhões descendo pelo ralo ao longo do ano, grande parte da culpa caindo sobre a Alexa. Assim, a assistente caiu no conceito da companhia.

As coisas chegaram a esse ponto porque a Alexa tinha uma certa benevolência da empresa. A assistente virtual era o projeto favorito do Jeff Bezos, que o ex-CEO manteve funcionando mesmo com ela dando um prejuízo enorme.

Segundo informes do site Business Insider, a divisão inteira de dispositivos e serviços está em crise, com a Alexa assumindo o papel de bode expiatório; ex-funcionários citam que o projeto foi “uma oportunidade desperdiçada” para gerar lucros, e “um fracasso imaginativo colossal”. Todas as estratégias para monetizar a Alexa até agora fracassaram.

Diante dos rumores de que a Alexa pode acabar, a empresa colocou panos quentes no vazamento ao dizer em comunicado que “estamos mais comprometidos do que nunca com Echo e Alexa, e continuaremos a investir pesadamente neles”.

Mesmo assim, os funcionários disseram que ainda não está claro o que o futuro reserva para a Alexa.

Este não é um problema exclusivo da Amazon. A Microsoft foi uma das primeiras a pular para fora do barco, e matou a assistente Cortana logo quando viu que não tinha futuro; outrora uma assistente avançadíssima, ela foi capada ao extremo e hoje, não chama atenção como produto.

O Google Assistente, por sua vez, está na mesma situação que a Alexa, em que todas as tentativas da gigante das buscas em extrair dinheiro da assistente, com exibição de anúncios e outras estratégias, também não deram em nada. A resposta foi a mesma, corte de pessoal.

Já a Apple opera de forma diferente, preferindo restringir a Siri apenas a seus (caros) dispositivos, no que o Homepod original não fez sucesso por ser caro demais; o mini, embora mais gerenciável, não é tão interessante frente a Alexa e o Google Assistente, compatíveis com TVs e caixas de som mais baratas.

Embora isso não signifique que as assistentes virtuais estejam com os dias contados, é possível que suas capacidades e recursos sejam restritos por conta de um menor investimento. Eu já li dezenas de artigos dizendo que o comando por voz via assistente virtual seria a tendência da interação com a tecnologia no futuro. Isso só vai acontecer a partir do momento de eles gerarem faturamento pra quem investe.

Lembre-se: a tecnologia em geral está na sua mão porque ela gera lucros para alguém, de algum jeito.

Um abraço e até a próxima.