Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Resumo

A Apple lançou o Apple Vision Pro, um óculos de realidade aumentada que promete uma experiência imersiva e avançada. O hardware é poderoso, praticamente um computador para pendurar na cabeça. O Vision Pro recebeu críticas por seu alto preço e limitações de uso, sendo considerado um produto de luxo. A concorrente Meta (Facebook) minimizou o lançamento, afirmando que está focada em produtos mais acessíveis.

Vinheta Com o lançamento do Vision Pro, a Apple entrou de cabeça no mundo da realidade virtual, e bagunçou o cenário das apostas no tal metaverso.

Bom dia ouvintes da CBN,

Depois de acompanhar muitos concorrentes falharem com óculos de realidade virtual, a Apple decidiu que era hora de entrar no jogo. O assunto mais comentado nas grandes da tecnologia foi o lançamento, neste início de Junho, do Apple Vision Pro. E a propaganda foi pesada: segundo a Apple, este é o “dispositivo eletrônico pessoal mais avançado já feito” UoU! Quem viu a demonstração no youtube e no lançamento diz que essa não é só uma frase de efeito. A ambição é produzir uma experiência totalmente imersiva, com impacto não só na área de entretenimento, mas também na educação e na forma como interagimos com pessoas e ambientes.

Há anos objeto de rumores e vazamentos, o Apple Vision Pro é óculos de realidade aumentada que permite ao usuário controlá-lo com os olhos, voz ou mãos. Tem um jeitão de óculos, mas não cobre o rosto todo, e também não é totalmente opaco - quem está na sua frente consegue ver os seus olhos. Uma experiência imersiva mas não alienante.

Pelo que se vê na demonstração, a imagem é cristalina, e o software é cheio daqueles detalhes lindos que a Apple sempre faz. Os sensores são capazes de analisar micromovimentos dos nossos olhos, inclusive a movimentação das pupilas. Assim, você controla os aplicativos apenas direcionando o olhar. Quem usou diz que é como se o aparelho adivinhasse os comandos, em interface direta com o cérebro. Além disso, os comandos são dados pelos dedos, também observados pelo aparelho sem a necessidade de nenhum botão. Para clicar em alguma coisa, basta encontar o indicador no polegar e o aparelho visualiza o gesto, abrindo o aplicativo que você está olhando.

O hardware é monumental. Poucos computadores possuem a capacidade do dispositivo, graças a um par de processadores poderosos. Que, aliás, gastam uma energia significativa; tanto que a bateria do aparelho teve que ficar separada, ligada aos óculos por uma cabo. O usuário tem que levá-la no bolso. Assistir a filmes deve ser legal, desde que você esteja sozinho (ótimo para viagens de avião, mas seria inviável dentro de casa, com a família). O filme tem que durar menos de 2h, tempo máximo de autonomia dessa bateria.

Como o “metaverso” e seus apetrechos andavam em baixa, ofuscados pelo interesse em inteligência artificial, a empresa adotou uma estratégia ousada para o lançamento do novo produto. Colocou o preço do visor em US$ 3.499 (17mil reais), mais caro que muitos dos laptops mais avançados da empresa. A ideia é gerar desejo de consumo através do preço. Ao lançar o produto primeiro para as elites globais que têm dinheiro sobrando para investir em um caríssimo visor de realidade aumentada, a expectativa é disseminar a ideia de que se trata de um produto exclusivo, de “luxo”. Antes de revelar o preço do Vision Pro, de US$ 3,5 mil (cerca de R$ 17,2 mil, em conversão direta), Tim Cook, CEO da Apple, como que justificando-se por antecipação, disse que o Vision Pro substitui TV, monitores, computador e outros produtos. A estratégia não é inédita. Elon Musk fez a mesma coisa quando lançou o primeiro carro da Tesla, com o preço de US$ 109 mil. A ideia era conferir aos carros elétricos, na época vistos como uma curiosidade utilitária, a ideia de objeto exclusivo, na mesma faixa de marcas de “alto luxo”. Uma coisa curioso, nenhum dos executivos da Apple se deixou fotografar usando o dispositivo; dizem as más-línguas que foi para evitar a criação dos inevitáveis mêmes.

E a Meta, dona do Facebook, será que depois de ter falado tanto no metaverso vai ficar para trás? De um lado, é bom para eles saberem que essa loucura de metaverso não é só coisa da cabeça deles. Mas o produto da Apple parece tão mais avançado do que os da Meta que ela parece ter assumido um papel de coadjuvante. Mark Zuckerberg minimizou o lançamento do Vision Pro, alegando que será apenas para uma elite de maiores posses, e que a Meta está lançando produtos mais baratos para as massas - o próximo dispositivo deles deve custar uns 500 dólares.

O preço de todos esses dispositivos, se a história da computação servir de parâmetro, cairá em algum momento e deixará de ser uma barreira tão íngreme. De todos os produtos que a Apple já tentou nos empurrar desde o seu renascimento com o iPod, no início dos anos 2000, o Vision Pro incorpora a ambição da Apple em ir além de tornar a realidade aumentada desejável. A empresa quer criar um novo modelo de “computação pessoal”.

O Vision Pro é o resultado da empresa mais valiosa do mundo investe muito para desenvolver um produto que ainda não existe, mesmo que esse produto ainda não tenha uma razão de existir e suscite sérias questões sociais. No fim de tudo, ele não deixa de ser um headset de realidade mista, como tantos outros — piores, é verdade — já disponíveis no mercado e que, por qualquer motivo, não caíram nas graças do público. Andam dizendo que, mesmo com essa tecnologia toda, ficaremos cansados ao usar um aparelho desses por mais de meia-hora seguida. Um jornalista americano que cobriu o evento mencionou que o Vision Pro nos oferece mais retrospectiva do que prospectiva, nos revelando um tempo em que entrar em um mundo virtual exigia um aparelho. Talvez isso seja mais passado, não o futuro.

Um abraço e até a próxima.