Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Especialistas em saúde mental avisam: o uso excessivo do smartfone, principalmente no acesso às redes sociais, tem levado pessoas a estados de vício semelhantes a qualquer droga. Esses aplicativos são projetados para aumentar o engajamento, levando nosso sistema neural de recompensas a uma compulsão que pode ter efeitos negativos na nossa vida. Já que o negócio das redes sociais não deve mudar tão cedo, cabe a nós promover o uso moderado dos aplicativos e do celular, sem se isolar do mundo.

Bom dia ouvintes da CBN,

Um ator de Hollywood adorado nas redes sociais, que não usa rede social. Estou falando do Keanu Reeves, famoso pelo filme Matrix e a franquia John Wick. Totalmente ausente do instagram ou do twitter, o astro diz que prioriza privacidade, e que não tem nada muito relevante a dizer sobre coisa alguma. Os profissionais que cuidam da saúde mental concordam com ele, já que as horas que a maioria das pessoas está desperdiçando nas telas está fazendo mal para elas.

O uso do smartphone aparece na vida dos pacientes de psiquiatras e psicólogos como fonte de sérios problemas, provocando acidentes de trânsito, explosões de raiva e sérios conflitos familiares, com efeitos que vão de apatia à depressão e crises de ansiedade. Com isso, multiplicam-se problemas no trabalho, e na relação social como um todo.

O brasileiro, na média, passa cerca de 5 horas por dia no telefone, 30% a mais do que fazíamos antes da pandemia, de acordo com dados coletados nas lojas online do iPhone e do Android. Lembra daquele filme interminável, o Titanic? Pois é, um filme e meio daquele de duração. E amanhã de novo, e novamente no dia seguinte.

Os psiquiatras relatam casos em que é comum não parar de olhar para a tela durante as refeições, ou durante qualquer conversa entre familiares. O jornal O Globo desta semana, uma reportagem trouxe o relata de diversos psicólogos, que, como tratamento, têm insistido que os pacientes enviem as chamadas “capturas de tela” com o tempo que gastaram no dia anterior, em todas as manhãs, para, quem sabe, essa média ir diminuindo com o tempo. Mas há relatos de pacientes que adotem dois telefones, como se estivesse enganando o profissional.

Claro que o tempo de uso tolerável não é o mesmo para todas as pessoas. Médicos usam como medida o sofrimento emocional trazido pela prática. A medida correta está em quanto esse hábito causa tristeza e quando ela perde o controle.

Eu vejo bastante os médicos e terapeutas comparando a dependência ao celular com qualquer outro vício. Vemos muito nisso o uso compulsivo, sem razão nenhuma, em que a pessoa pega o celular, olha pra tela e guarda de novo, mesmo sabendo que não tem nada de novo. Tem aquela fissura, uma sensação negativa acentuada. Tem o sofrimento pela falta de uso, quando o limite de tempo sem uso é cada vez menor e a pessoa tira o telefone do bolso em qualquer ocasião, incluindo cinema ou teatro.

E mesmo que ainda não seja um vício, algo patológico, muitos outros problemas podem acontecer. No ano passado, acadêmicos italianos relacionaram, em pesquisa, o uso compulsivo do celular com o hábito de fazer compras sem limite. Em comum, duas coisas: ânsia de controlar sensações negativas e a perda da noção de tempo durante uma atividade extremamente prazerosa. Neurocientistas dos EUA mostraram também recentemente o impacto das redes sociais no cérebro de adolescentes. Jovens acima de 12 anos que checam redes sociais com frequência demonstram maior sensibilidade a recompensas sociais, o chamado “feedback”, em comparação com um grupo sem checar as redes. Essas pessoas, mesmo que não haja dano cerebral de longo prazo, apresentam uma hipersensibilidade à opinião dos outros.

A partir desses sinais, tendemos a simplificar o problema, colocando a culpa nos próprios usuários. No entanto, eu, você, qualquer um de nós, facilmente caímos nessa armadilha, pelo simples motivo do projeto desses sistemas móveis ser criado para nos atrair. A telas agem de maneira a recompensar a gente, incluindo cores, luzes, tamanho de letra, o gestual. Vários estudos já relacionam as atividades em um aplicativo de rede social à liberação de descargas de dopamina, o neurotransmissor do prazer. O cérebro meio que se adapta a esse volume de dopamina, se acostuma com a abundância, e pede sempre mais, entrando num ciclo interminável. Assim, o cérebro demanda mais consumo de dopamina para termos a mesma sensação prazerosa, piorando nossa condição quando um déficit. Déficit esse que pode vir de situações como a diminuição dos likes das suas fotos, e a pessoa se sente excluída, deixando-a vulnerável com tempo.

Diante desses fatos, seria fácil eu chegar aqui e fazer o celular o mal do século, o demônio da nossa vida. Estima-se que apenas 10% dos usuários tenham alguma condição doentia de dependência, apesar da grande maioria cometer alguns excessos. Nesse sentido, precisamos entender e reconhecer que é muito tentador usar de forma viciante. Faça você mesmo o teste, comece a visualizar os pequenos vídeos do Tik Tok sem compromisso, e olhe no relógio quando terminar. O susto é grande.

Psicólogos afirmam que alguém viciado no uso do celular pode atingir mais moderação depois de um período de abstinência. O ideal? Quatro semanas sem o celular, para em seguida começar um relação mais saudável com o aparelho. Claro que você aí deve ter pensando “não posso ficar sem celular um mês, tá doido?”; assim, uma ideia talvez possa ser ficar um dia por semana longe do acesso às redes sociais, desligando notificações. Que tal?

A boa notícia é que existe um caminho de volta para o equilíbrio, sem se isolar de um mundo que vive conectado, e das funções utilíssimas do celular nos tempos atuais.

Um abraço e até a próxima