Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Tem um novo site que promete simular uma conversa com uma pessoa na internet, de forma muito convincente, só que do outro lado tem uma máquina. O ChatGPT está fazendo todo mundo discutir os limites da inteligência artificial.

Bom dia ouvintes da CBN,

%o que está acontecendo A internet só fala nisso. Se você fizer uma rápida pesquisa, vai ver gente discutindo que o futuro já chegou, que os computadores vão nos dominar, e que não teremos mais empregos, já que a inteligência vai conseguir fazer tudo que nós fazemos. E o que aconteceu pra deixar todo mundo tão maravilhado e apavorado ao mesmo tempo?

Uma organização com o nome de OpenAI - algo como Inteligência Artificial Aberta -, abriu o acesso do seu chat ao público no início deste mês de Dezembro de 22, o ChatGPT. Assim, por meio de uma interface de bate-papo, é possível pedir para que a ferramenta escreva piadas, componha música, responda a perguntas, resolva problemas de física, elabore petições e o que mais o usuário solicitar. E os resultados desses diálogos com uma máquina viralizam na internet sem parar. Mais de um milhão de pessoas já usaram o site, que talvez seja a experiência com Inteligência Artificial mais próxima do usuário comum já feita.

%outros feitos recentes da IA Juntamente com atualizações recentes de outros sites que usam inteligência artificial, como o DALL-E, que gera obras de arte, e o Lensa AI, que produz retratos digitais de pessoas, o ChatGPT é um sinal de que a inteligência artificial começa a rivalizar com as habilidades humanas, pelo menos para algumas coisas, de forma até meio assustadora.

%como funciona? O site ChatGPT é baseado em uma tecnologia chamada GPT, o que em Português é sigla para Transformador Gerativo Pré-treinado. E o que é isso? Por baixo está um recurso chamado modelo de linguagem, um sistema de predição que tenta adivinhar o texto que deve ser escrito em uma determinada situação, com base em textos anteriores que ele já processou e, digamos assim, aprendeu. Se eu pedir para esse sistema escrever uma redação sobre desigualdade de renda no Brasil, ele usa vários textos da internet sobre esse assunto e vai gerando o conteúdo em cima de uma estrutura de frases também tomada de textos anteriores. O resultado dá mesmo a impressão de você estar conversando com alguém, com ideias reais e legítimas. O GPT é diariamente alimentado por milhões de textos, e pela própria interação com as pessoas no chat, o que faz com o que diálogo pareça mais humano. Ele imita as redes neurais humanas e tem na memória bibliotecas inteiras, da Wikipédia a programas linguísticos de computação. Ao receber uma ordem, os computadores fazem uma enormidade de cálculos e os refina até vir com a resposta. Assim, por mais que se repita a mesma ordem, o sistema gera sempre um texto diferente do anterior.

%como usar? Por enquanto, a interação com o ChatGPT é gratuita. Para usá-lo, basta entrar em chat.openai.com/chat e fazer um cadastro. Por causa da alta demanda na abertura, o site vive tendo instabilidade de acesso. %exemplos de uso Quando consegui usar, vi que o site está em inglês, mas é possível escrever e obter respostas em português. Comecei com uma pergunta bem fácil, do tipo “Qual o sentido da vida?” A resposta começa com “O sentido da vida é uma pergunta complexa e filosófica que diferentes pessoas podem responder de maneiras diferentes. Algumas pessoas acreditam que o sentido da vida é…” Depois coloquei uma pergunta bem mais difícil, se o melhor sorvete é o de chocolate ou de morango; a tendência é que o sistema fique sempre em cima do muro, o que deixa a experiência meio artificial, afinal nós, humanos, adoramos anunciar nossa opinião como se fosse a resposta definitiva. Mas a riqueza da linguagem utilizada é de impressionar.

%muita gente compartilha No Twitter, muitos usuários compartilharam suas experiências com o chat. Segundo eles, o robô foi capaz de criar um poema para comemorar o hexa (que não aconteceu, afinal), discutir dilemas do livro “Dom Casmurro”, recomendar uma viagem de férias com a família, elaborar um anúncio para um programa de perda de peso e até calcular o lançamento de um foguete para a lua.

A empresa, OpenAI, está tentando arrumar um jeito de comercializar a tecnologia, até mesmo porque vários bilionários do Vale do Silício investiram alguns milhões iniciais na ideia. Essa versão existe para testes mesmo.

%as limitações da tecnologia Tecnologicamente, existem várias limitações, claro. Apesar de ser projetado para não avançar em temas moralmente questionáveis, não é tão difícil direcionar as respostas do sistema para, por exemplo, dar conselhos em como se engajar em atividades ilegais. E como toda solução de IA, pode ser enviesado para trazer respostas ofensivas. Houve relatos de versões antigas gerarem conteúdos racistas.

Mais do que isso, o sistema não produzirá nada de diferente do que já existe, já que, de certa forma, recicla textos prévios. O que mostra que muitas pessoas escrevem de maneira automatizada e alienada, reciclando o sabido e não criando nada. A Inteligência Artificial pode soar extremamente confiante enquanto demonstra falta de entendimento profundo sobre aquilo que fala. Se fosse uma pessoa, a chamaríamos de embromador.

Essas limitações mostram que ainda está bem longe dos trabalhadores do conhecimento perderem seus empregos. Mas soluções como esta podem ser muito úteis para as tarefas mais tediosas e detalhistas. Essas formas de IA, no fim das contas, estão nos levando a discutir quais são as tarefas que teremos na sociedade, e quais teremos a tecnologia para fazer por nós.

No final, eu posso concluir a coluna com uma reflexão sobre como a tecnologia está moldando o futuro e como cada um de nós pode usá-la de maneira positiva. Meio sem sal, né? Pois é, isso aí foi o ChatGPT que me passou, quando eu pedi pra ele terminar a coluna pra mim.

Um abraço e até a próxima.