Tiago Massoni

Logo

Associate Professor in Computer Science

View My GitHub Profile

Todo mundo precisa do Google, o tempo todo. O buscador que está em todo lugar, o Gmail, o Android, todas as ferramentas que usamos tanto. Isso quer dizer que a empresa vai crescer para sempre, certo? Parece que não é bem assim. Uma combinação de fortes golpes de concorrentes, problemas com o governo e decisões supostamente equivocadas tem levado esse gigante à lona. Será que o fim do Google como o conhecemos está próximo?

O Império Google está ameaçado? Concorrência na Inteligência Artificial e Ameaças de Processo estão preocupando a maior das gigantes de tecnologia.

Bom dia ouvintes da CBN,

Pinta de tempos em tempos em nossas discussões na Universidade a consciência de que boas ideias, quando aparecem no momento certo, podem modificar a forma como mundo funciona. O boom da internet, aliado à necessidade de se organizar toda a informação que estava sendo gerada, despertou nos empreendedores a demanda por buscadores de páginas na internet. Em 1997, já existiam vários, mas naquele momento nascia o tal de Google, que mudou tudo. O método de catalogação era radicalmente diferente, baseado em ideias inovadoras em programação, muito bem executadas, por estudantes de computação da Universidade de Stanford, na Califórnia. Nada na internet seria a mesma coisa dali em diante.

Do buscador, criou-se o império. Reuniões online, documentos, planilhas, Youtube, o software que roda na maioria dos smartfones do mundo, e muita, mas muita mesmo, publicidade segmentada, o que leva empresas que querem vender suas coisas jogando dólares diariamente na máquina publicitária que coloca anúncios precisos na cara das pessoas que querem comprar.

A empresa se tornou uma corporação, cujo nome, Alphabet, inclui todas os empreendimentos ligados ao Google, com lucros anuais de algumas centenas de bilhões de dólares. Isso inclui os empreendimentos mais arriscados, aqueles que exigem investimento alto para resultados que nem sempre vão gerar produtos, como carros autônomos, internet em balões, e até avanços para evitar o envelhecimento, vejam só.

Por mais diversificado que seja em seus serviços, o dinheiro entra quase todo através da mesma fonte: publicidade. Ou seja, um risco, diria qualquer influencer de empreendedorismo de instagram. E o google tem enfrentado várias ameaças à manutenção de sua posição atual.

Há algumas semanas tenho trazido para cá algumas reflexões sobre o frisson causado pelo chatGPT, em sua surpreendente capacidade de sintetizar conteúdo textual treinado em textos na internet. O alarme soou forte no Google, já que o chatGPT promove uma experiência de busca mais enxuta, no formato de uma conversa informal, e praticamente zero conteúdo patrocinado.

Pouco mais de um mês depois do lançamento do concorrente, o Google anunciou, num evento confuso, uma plataforma de busca inteligente chamada Bard. O que preocupa é que eles estão chegando atrasados em um potencial mercado, mesmo assim em meio a outros concorrentes, como a Microsoft, que tem convênio com o criador do chatGPT.

Com o chatGPT atingindo 100 milhões de usuários em dois meses (algo nunca visto em um produto digital), a ameaça é real, mesmo que não se saiba como o produto será viável para negócios em geral.

Isso tudo assustou a turma do google de um jeito, que os criadores do buscador, lá de 1997, afastados do dia a dia da empresa, voltaram a trabalhar rotineiramente, depois de três anos. A confusão da apresentação do Bard até agora só gerou prejuízo: 100 bilhões de valor de mercado da Alphabet.

Outra ameaça ao Google é que quase todo dia aparece alguém querendo processar a empresa. Em Janeiro, por exemplo, o Departamento de justiça dos EUA trouxe uma acusação séria: monopólio do Google no negócio da publicidade, justamente a fonte dos lucros. Os procuradores acusam o Google de dominar a publicidade digital comprando concorrentes; desta forma, a empresa faz parte de todas as fases de compra e venda de anúncios, ficando com a maior fatia do dinheiro. Processos assim são famosos por, historicamente, desmembrar empresas em partes menores, diminuindo sua importância global e quebrando seu domínio de mercado. Além disso, levam anos de desgaste aos réus, prejudicando seus negócios mesmo que não dê em nada.

Ainda há a constante ameaça da opinião pública. Um exemplo: há alguns anos, o Google apresentou ao público um produto chamado Duplex, uma IA falante que telefonava para empresas, em nome de alguém, para realizar alguma atividade entediante, como reservar mesa de restaurante. Era interessante, inovador, mas também assustador. O robô não avisava que não era humano, e ainda imitava trejeitos naturais de pessoas ao telefone, como respirar entre falas e gaguejar certas palavras. Há um ano, mais ou menos, discuti com vocês aqui na coluna que um engenheiro saiu da empresa fazendo barulho na imprensa, porque estava com medo de que a IA do Google estava “adquirindo consciência”.

Essas e outras coisas reverberaram negativamente na opinião pública, e deixou a empresa com receio de danos na reputação. Alguns vazamentos de documentos mostram que o Google já tinha tecnologia de inteligência artificial para algo na linha do chatGPT faz tempo, mas não cogitava lançar por ora. No caso da empresa do chatGPT, ficou fácil lançar um beta que pode até falar besteiras por aí, já que acabou de chegar e não tem muito a perder.

Decisões precisam ser tomadas a partir de agora. O Google vai manter a posição cuidadosa em que se encontra, correndo o risco de perder um mercado que provavelmente dominará o terreno da busca por informação? Ou ela deve reagir rapidamente, arriscando sofrer reações negativas?

Ficamos aqui à espera de novos lances.

Um abraço e até a próxima