Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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mais uma da internet: não caia no golpe do trabalho em casa por meio período

Comentário: mais um golpe: sempre interessa Data: July 27, 2022 Palavras chave: golpe, pix, segurança

Uma mensagem via SMS, oferecendo renda de 5 mil reais mensais por um trabalho na internet, sem sair de casa. Parece tentador, mas pode ser um golpe. Há relatos de gente perdendo muito dinheiro nessa nova modalidade de compras falsas disfarçadas de “missões de trabalho online”. A partir de relatos, vamos destrinchar o modus operandi e as consequências dessa nova modalidade de fraude eletrônica.

Bom dia ouvintes da CBN,

Algumas pessoas têm comentado que estão recebendo SMSs com ofertas de trabalho, e me perguntam se valem a pena mesmo. Parece tentador: há uma promessa de algo em torno de R$ 5 mil por meio dia de trabalho. E com o bônus por inscrever-se, de R$ 12. Isso, doze reais, só para se inscrever.

Momentos de crise como a que vivemos hoje, na economia e no emprego, sempre foram férteis em trazer essas promessas de ganho fácil, por um trabalho simples que não exige qualquer qualificação. Antigamente, eram pregados folhetos nos postes com esses anúncios. A diferença hoje é que todo mundo usa internet, muita gente trabalha em casa, e muito mais gente, depois da pandemia, abriu contas bancárias, muitas dessas em bancos puramente digitais, só para usar o PIX. Logo, a promessa chega no seu celular, e toda a transação seria feita pela internet, sem encontros presenciais ou deslocamento. Isso talvez atraia ainda mais.

E então, o que acontece com a pessoa que responde a um chamado desses? Um jornalista de um site muito bom chamado Manual do Usuário, o Rodrigo Ghedin, de forma proposital, tentou entrar para investigar o que acontece. Ao responder, recebeu contatos de WhatsApp de um provável bot, com respostas automatizadas, direcionando, depois do registro inicial, para um site de compras desconhecido, que lembra lojas virtuais orientais, como AliExpress e Shoppe, mas que, incrível, não tem nada à venda. Esse site não aparece no Google, fica escondido. Nesse local, há números referentes ao desempenho do usuário nas “tarefas”, uma lista enorme de comissões supostamente recebidas por outros usuários naquele momento, e kits de produtos. Quando se clica em um desses kits, mostra-se um saldo zerado e botões para acrescentar algo, e fazer um pedido. Quando se adicionam produtos, aparece um QR Code de PIX para você mesmo fazer o pagamento.

Isso é porque são oferecidas “missões” às pessoas. Essas missões consistem em fazer supostas compras nesses sites, com a promessa de que o valor gasto (ou “investido”) será devolvido com um adicional pelo trabalho desempenhado. É bem provável que as compras sequer aconteçam, considerando o modo como elas são pagas: em transferências por Pix a pessoas físicas, possíveis laranjas no esquema.

Pois adivinha o que é então: mais um dos muitos golpes da internet.

A vítima se dá conta de que caiu em um golpe ou quando o valor que ela precisa transferir por Pix sobe sem parar, até se tornar inviável, ou quando ela decide sacar seu saldo e sair do esquema. Em qualquer opção, os golpistas impõem uma última tarefa ou uma taxa de resgate para liberar o suposto saldo, que costuma ser altíssima, inviabilizando seu comprimento. De qualquer forma, essa tarefa/taxa é mais uma maneira de extorquir dinheiro da vítima, porque mesmo após ser paga o saldo não é liberado. Na real, não existe nem nunca existiu saldo algum.

Depois que o jornalista publicou o relato no site, a seção de comentários ficou repleta de histórias de desespero das vítimas, que cairam na notícia depois de perceberem que cairam num golpe e estavam procurando mais informações. Ou seja, quando era tarde demais. Nas histórias, teve gente que só perdeu 70 reais, mas chega a ter casos de perdas de 30 mil reais, com pessoas que pediram até empréstimo para completar as tais missões.

Especialistas em segurança explicam que esse mecanismo não tem como objetivo não é nem roubar dados pessoais; o objetivo é encontrar um laranja para diluir a lavagem de dinheiro. E quanto mais crime cibernético tem, mais os golpistas precisam de laranjas para esse tipo de transação. Esses golpes são muito populares em países como Quênia e Índia, versões moderna do clássico golpe do príncipe nigeriano, aquele que pedia, por mensagem de correio eletrônico uma transferência de dinheiro para liberar uma hipotética herança milionária de sua nobre família, prometendo recompensar os que puderem ajudá-lo.

Mensagens que prometem enormes quantias por pouco trabalho são disparadas para milhares, talvez milhões de pessoas, com a estatística de que uma pequena porcentagem acredite nelas e caia no golpe.

No caso do Brasil, a diferença é o recurso do Pix, o sistema de pagamentos instantâneos lançado em 2020 e que se popularizou rapidamente.

Não dá pra dizer que tenha sido o Pix que tenha provocado o golpe - transferências eletrônicas existem há muito tempo. É mais provável que o maior número de brasileiros com conta bancária, depois da pandemia de covid-19. Botemos também na conta dos grandes vazamentos de dados que têm ocorrido no Brasil, já que isso facilita a obtenção de números de telefone para enviar as mensagens.

Tomemos cada vez mais cuidado, então. Ser vítima de golpes como esse é perder a base jurídica para ser indenizado pelo banco, por exemplo. O entendimento da Justiça brasileira é de que o banco não é obrigado a ressarcir o prejuízo, pois é a própria vítima que faz a transferência. Algo a fazer, de forma urgente, é comunicar ao banco de onde os pagamentos sairam, pois, dependendo da agilidade, ele consegue ainda congelar e ressarcir os valores.

Criptomoedas, trabalhos milagrosos de meio-período, marketing digital…tantas são as palavras mágicas para atrair vítimas na internet. O mundo virtual, nesse ponto, é igualzinho ao mundo real: dinheiro não vem fácil.

um abraço e até a próxima.