Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Netflix com Anúncios

Você pagaria menos pelo serviço de streaming se aceitar receber propagandas enquanto assiste uma série? Essa é a ideia atualmente testada pelo Netflix.

Você pagaria menos pelo serviço de streaming se aceitar receber propagandas enquanto assiste uma série? Essa é a ideia atualmente testada pelo Netflix. O plano do Netflix com anúncios oferece uma experiência menos livre de filmes e séries por 7 reais por mês a menos na conta. Será que vale a pena? A iniciativa já começa a trazer boas notícias para o negócio de streaming.

Bom dia ouvintes da CBN,

Imagine se transportar agora para o mundo em que víamos televisão o tempo todo. Sim, aqueles canais, programa da Xuxa para as crianças, Novelas de noite, Sílvio Santos aos domingos, daquele jeito. Provavelmente você está dizendo que não faz mais isso, tudo bem, entendo. Mas volta um pouquinho ao passado, só pra lembrar de uma coisa.

Como é que os canais de TV faziam para financiar suas atividades, pagar apresentadoras, atores, jornalistas? Isso mesmo, publicidade. Os intervalos comerciais, com propaganda. Os anunciantes, que com seu aporte de recursos financiaram décadas de mídia televisiva no mundo todo.

Como você mesmo pensou, muita gente já deixou esse mundo da TV aberta, e suas TVs só têm espaço para serviços de streaming via internet. Netflix, o pioneiro, de longe o mais popular, mudou muito como consumimos TV, principalmente com suas séries viciantes. Temos hoje muitos outros, já que às empresas de mídia não restou nada além de seguir a tendência: Globoplay, DisneyPlus, HBO Max…

No streaming, já nos acostumamos a ver o que queremos, a qualquer momento, sem intervalos comerciais. Fica entre nós a impressão de que esse modelo ficou obsoleto; que, depois de se acostumar com o streaming, não iríamos mais voltar para os intervalos comerciais. Mas aí, claro, quem financia as produções? De onde vem o dinheiro? Esses serviços são pagos por nós, consumidores, diretamente através de mensalidades. E isso não deixa de ser um sucesso: no início desse ano, uma pesquisa estimou que 75% dos brasileiros acessam algum conteúdo de streaming todos os dias.

Com o tempo, o mercado de streaming começou a perceber que as coisas não seriam bem assim. A concorrência nesse mercado se tornou feroz, já que o Netflix não estava mais sozinho no mercado, provocando uma fragmentação na audiência. Aí vem o que hoje se chama crise: aumento no valor dos pacotes, que no Brasil, no caso do Netflix variam de 25 reais a quase sessenta. Além disso, cobranças extra para pessoas que compartilham assinaturas em casas diferentes. Junto com a queda de assinantes no mundo todo, esses sinais demonstram que o mundo do streaming precisa de mudanças.

E aí vem a ideia, que tal voltarmos aos velhos anunciantes? Deixa eu ser honesto aqui, os anúncios na verdade nunca deixaram de existir. Veja por exemplo o Youtube, com suas propagandas no início e no meio de quase todos os vídeos, pelo menos para quem não paga 20 reais mensais para ter a experiência sem anúncios. O lançamento de uma nova modalidade de assinatura do Netflix foi bastante comentado na semana passada. O plano “Básico com anúncios” da Netflix custa 18,90 mês, e já pode ser adquirido desde o dia 3 de Novembro.
No fim, não sei se alivia tanto o valor. O plano mais barato sem anúncios custa apenas 7 reais mensais a menos. Talvez faria mais sentido se a economia fosse maior do que essa; quem sabe a Netflix compreenda isso com o tempo e baixe o valor.

O plano está disponível no Brasil e em outros 11 países, entre eles Estados Unidos e Reino Unido.

Contudo, alguns dispositivos são incompatíveis com o plano. Nos dispositivos móveis, por exemplo, só poderão acessar a plataforma com esse tipo de assinatura usuários que tiverem aparelhos com Android 7 ou superior ou com iPad, iPhone e iPod touch com iOS 15 ou superior. Em todas essas situações, ao tentarem acessar os dispositivos com seu plano “Básico com anúncios”, o usuário será informado da falta de compatibilidade do aparelho. Ele então será convidado a utilizar outro dispositivo ou fazer um upgrade do seu plano de assinatura.

O plano da Netflix com anúncios funciona da seguinte forma: antes e durante a reprodução dos filmes e séries, há um intervalo para exibição das propagandas. Essa pausa pode durar entre 4 a 5 minutos com publicidades de 15 ou 30 segundos. Depois de um bloco de anúncios, outro é exibido após uma hora de reprodução. Os assinantes do novo plano não serão afetados em sua experiência do Netflix Games, que continua gratuito e sem anúncios para qualquer conta paga do serviço. O mesmo acontece com os programas para crianças da plataforma, que se estiverem sendo vistos por um perfil infantil, também estarão livres de propagandas.

A qualidade do streaming não vai poder passar de 720p, que não atinge o chamado full-HD, de 1080p.

Tem ainda algo que pode desagradar novos assinantes ou antigos pagantes que queiram aliviar seus gastos com streaming e mudar para uma assinatura mais barata: o catálogo da Netflix não estará completo na versão “Básico com anúncios”. Segundo a empresa, isso se dá devido às restrições de licenciamento de algumas produções, mas a Netflix promete estar trabalhando para contornar o problema. Na prática, isso significa que ao abrir o streaming, usuários do novo plano devem se deparar com alguns conteúdos que possuem o símbolo de cadeado, o que os impede de serem acessados.

Outro ponto não muito bem-vindo do pacote é a retirada do botão de downloads de filmes e séries, opção que nesta versão não estará disponível para nenhum dos assinantes.

Não se sabe bem se foi por isso, mas a Netflix anunciou, diferentemente do início do ano, crescimento de assinantes acima do esperado. No terceiro trimestre de 2022, 2,4 milhões de novos assinantes apareceram no balanço da empresa. As previsões para o restante do ano são tão animadoras quanto. A gigante do streaming espera incorporar até 4,5 milhões de assinantes durante o quarto trimestre, o que também está acima das previsões feitas até Julho deste ano. Analistas já relacionam esse crescimento com a perspectiva dos novos planos baratos com anúncios, além da recente medida de restringir compartilhamento de planos entre pessoas em diferentes endereços. Quem tinha um plano compartilhado foi, inclusive, incentivado a criar uma assinatura sem perder seus dados, através de uma ferramenta de transferência de perfis, lançada pela empresa.

Atualmente, a Netflix é líder do mercado e responde por 8,2% de todo o tempo de exibição de vídeos no Reino Unido e 7,6% nos EUA. Ela está empatada com o YouTube nos EUA, mas bem à frente de rivais como Amazon e Disney+.

O compromisso na tecnologia em mídia parece que vai ser sempre esse. Pagaremos menos (ou nada) pelos serviços oferecidos pelas plataformas, dando em troca nosso tempo para a publicidade. Exatamente como era antigamente. Como diria o poeta, o mundão da tecnologia não gira, ele capota.

Um abraço e até a próxima.