Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Se você puder trabalhar apenas usando um computador e internet, você talvez queira ser um nômade digital. Quais são as vantagens e desvantagens de uma vida profissional sem residência fixa?

Trabalhadores que usam a tecnologia para exercer o trabalho enquanto se deslocam pelo mundo. Esses são os chamados nômades digitais, personagens característicos da era moderna do trabalho remoto. Eles observam o mundo, conhecem novas pessoas e trabalham nos seus próprios horários. Mas, cuidado, o glamour desse estilo de vida pode ser enganoso.

Bom dia ouvintes da CBN,

Você teria coragem de mudar de vida é ser um nômade digital? Os nômades digitais são pessoas que desfrutam da liberdade de trabalhar online de qualquer lugar do mundo. Imagine poder fazer seu trabalho, seja ele escrever, projetar, programar ou dar consultoria, usando apenas um computador e uma conexão à internet. Os nômades digitais aproveitam essa flexibilidade para viajar e explorar novos lugares, enquanto mantêm suas atividades profissionais. Isso se dá por trabalharem de forma remota, o que se chama hoje de home-office, mesmo que essas pessoas não tem uma casa (home) fixa. Faz muito sentido para quem gosta de experimentar diferentes culturas e ambientes. Os nômades digitais se conectam através de comunidades online, compartilhando dicas e conselhos sobre destinos, acomodações e até mesmo como lidar com os desafios que essa vida nômade pode trazer.

Imagine você sendo um gerente de produtos que trabalha em casa; para seu empregador, você está disponível online no horário de trabalho. Mas você pode morar durante dois meses num lugar de praia, depois decidir ir para um metrópole. Quem sabe no ano que vem estabelecer-se em uma cidade histórica. Enquanto você tem internet, está tudo bem.

Os nômades digitais podem ser muitos tipos de trabalhadores diferentes. Alguns são freelancers ou terceirizados; outros são empresários que estão construindo seus próprios negócios; e outros trabalham em cargos remotos em tempo integral para empresas ao redor do mundo. Alguns são assalariados, outros ganham por tarefa. E especialistas afirmam que, de forma geral, muitos desses profissionais são da área administrativa e têm bons níveis de formação educacional. Brian Chesky, o CEO do Airbnb, é talvez hoje o “nômade digital” mais famoso: recentemente, anunciou que não terá mais residência fixa e só trabalhará de forma remota, pulando de Airbnb em Airbnb ao redor do mundo. Outros exemplos incluem produtores de conteúdo para internet, editores de vídeos, fotógrafos, tradutores, designers e desenvolvedores de software, claro.

Os dados dos especialistas e histórias isoladas demonstram que a quantidade de nômades digitais vinha crescendo nos últimos anos, com um grande pico na chegada da pandemia de covid-19. É difícil indicar o número exato desses profissionais, mas um relatório de 2022 de uma consultoria norte-americana estima que a quantidade de nômades digitais nos Estados Unidos aumentou vertiginosamente, em 131%, desde 2019 - com os autodenominados nômades chegando à casa dos milhões de profissionais. A estimativa é que essa comunidade já soma mais de 35 milhões de adeptos pelo mundo. Segundo o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022 da Fragomen, empresa global especializada em migração, é estimado que até 2035 existam cerca de 1 bilhão de nômades digitais. E, em países onde há menos dados disponíveis, existem inúmeros recursos para ajudar os profissionais remotos a seguirem seu caminho pelo mundo.

Atualmente, há cerca de 23 países que adotaram vistos específicos para os nômades digitais. Entre eles, Islândia, Tailândia, Emirados Árabes, Costa Rica, Grécia e Argentina. Em 2022, o Brasil também passou a integrar a lista. O Conselho Nacional de Imigração, presidido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), regulamentou a concessão de visto temporário e autorização de residência aos imigrantes que se encaixem na modalidade. O estrangeiro que quiser aplicar para obter o documento não pode ter vínculo empregatício no Brasil e precisa fazer uso de tecnologias da informação para executar as atividades laborais para empregador estrangeiro.

No entanto, um número cada vez maior de profissionais que tentaram seguir o estilo de vida nômade relatou para a BBC inglesa que, por trás dos blogs de viagem e das postagens inspiradoras no Instagram, a realidade desta prática nem sempre é tão glamourosa. Existem muitas vantagens para os profissionais que tentaram este estilo de vida, mas muitos deles também afirmam que a falta de laços traz consequências para a saúde mental e física, até prejudicando sua satisfação profissional. O resultado é que alguns nômades abandonaram esse estilo de vida.

Os relatos incluem pessoas que começaram a ganhar dinheiro suficiente para começar uma vida de nômade, trabalhando remotamente, e que adoravam viajar, então, nada mais natural do que escolher essa opção. Mas depois de alguns anos, o entusiasmo pelo estilo de vida nômade pelo mundo começava a diminuir, o que se transformou em uma obrigação cansativa que ela queria abandonar desesperadamente. Viver e trabalhar em constante mudança tiveram repercussões inesperadas sobre a sua saúde física e mental.

A falta de uma comunidade estável pode resultar na perda de amizades antigas, gerando sentimentos de solidão e depressão. E manter a produtividade na estrada é um desafio. Tentar administrar o trabalho, explorar novos lugares e lidar com conexões de internet muitas vezes não confiáveis também acaba sendo desanimador.

Pesquisas acadêmicas sobre a atividade de nômade digital mostra que as pessoas que escolheram o estilo de vida nômade digital frequentemente não estavam preparadas para as desvantagens, em parte, porque a sua comunidade costuma apresentar uma imagem idealizada nos blogs e nas redes digitais, escondendo os aspectos negativos como a solidão, problemas de saúde mental e dificuldades financeiras. Alguns profissionais consideram que este ainda é um cenário sustentável, especialmente para aqueles que monetizam o estilo de vida nas redes sociais. Mas ser nômade não funciona para todas as pessoas que se aventuram nessa atividade. Uma coisa importante é que o nômade digital tem sua mobilidade restrita pelo passaporte; é preciso ter um passaporte poderoso - passaportes mais restritos limitam o número de países que podem ser visitados sem visto de turista.

E, embora o número de nômades digitais tenha aumentado muito nos últimos anos, segundo os dados disponíveis, eles ainda são um pequeno percentual dos profissionais em todo o mundo e tendem a se concentrar em alguns poucos países com passaportes vantajosos. Muita gente jovem pode aproveitar a comodidade das ferramentas de comunicação online e se estabelecer profissionalmente dessa forma. Ao mesmo tempo, as empresas querem os funcionários de volta para os escritórios. Por isso, a tendência continuará crescendo, mas talvez com menos rapidez.

E você, gostaria de trabalhar na praia? No meu caso, tenho minhas dúvidas. Provavelmente eu não ia conseguir trabalhar coisa nenhuma…

Um abraço e até a próxima.