Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Pix Disruptivo mudando pra sempre os serviços financeiros

Bom dia ouvintes da CBN,

Como vocês sabem, o Pix chegou ao mercado em 2020, no auge da pandemia de COVID-19, para transferências financeiras de pessoa física (sem taxas) ou jurídica, independente do banco de origem ou destino. Antes dele, precisávamos recorrer ao DOC e TED, que cobravam taxas bem altas. Essas modalidades, pelo menos no caso de pessoas físicas, foram praticamente eliminadas. Outro serviço financeiro que pode estar com os dias contados é o tal do boleto bancário, principalmente no caso do comércio eletrônico.

Em praticamente todos os sites de compras online, nos deparamos com opções diferentes de pagamento, tipicamente cartões de crédito, carteiras digitais (como mercado pago ou Pag Seguro) ou boletos bancários. Pois então, os pagamentos com boletos não são realizados em quase metade das vezes, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). Além disso, a falta de flexibilidade nos pagamentos pode levar a um carrinho abandonado. Segundo a empresa de pagamentos Adyen, 52% dos consumidores brasileiros dizem que desistiram de fazer uma compra porque não podiam pagar do jeito que queriam.

Nesses últimos dois anos, o PIX passou a fazer parte dessa lista de opções. Surpresa: se tornou imensamente popular. Para as varejistas, o Pix não só tem potencial de reduzir e até substituir o boleto como também de aumentar o número de vendas no comércio eletrônico e diminuir o abandono de compras. Dados mostram que, apenas dois anos após seu lançamento, o Pix já divide o segundo lugar nas formas de pagamento, ao lado dos boletos. Essa aceitação tem potencial para chegar a 92% nos próximos anos, como preveem algumas consultorias. Em janeiro de 2021, o Pix apresentava 17% de aceitação entre os comércios virtuais do Brasil; em julho deste ano, alcançou 76%.

Em agosto, dados do Banco Central (BC) apontam que o número de chaves Pix cadastradas bateu a marca dos 478,3 milhões até o final de julho deste ano, sendo que a população brasileira é composta por 214,9 milhões de pessoas. De acordo com o BC, a maior parte das chaves registradas são de pessoas físicas, o equivalente a 95%. A quantidade de operações por meio de Pix já é maior do que transações com cartão pré-pago, transferência intra-bancária e débito direto, no geral.

Li recentemente dados do site Mercado Livre; lá, a adoção do Pix teve expansão em torno de 130% e causou uma redução de 33% no uso de boleto no segundo trimestre,se comparado com o mesmo período do ano passado. Na plataforma, lojas oficiais de marcas como Samsung, Nike e Hering já aceitam pagamentos via Pix. Com 30 milhões de usuários ativos e 10 milhões de vendedores, o Mercado Pago, banco digital do mesmo grupo, fornece sistema de pagamento para lojas físicas e digital que já tem um quarto de todas as transações feitas via Pix. Além de diversas lojas online, a empresa faz os pagamentos via Pix nas farmácias da rede Pague Menos e nas lojas físicas da C&A.

O que se avalia dessas leituras do mercado é que a experiência de pagamento melhorou com o PIX. Você que já fez uma compra online tem em mente que qualquer obstáculo no pagamento frustra demais a experiência de consumo, e te leva rapidamente a desistir, principalmente pela falta de suporte personalizado. Quando temos problemas para pagar alguma compra numa loja física, atendentes sempre tentam nos dar alguma alternativa para resolver; esse atendimento personalizado não existe no comércio eletrônico.

Varejistas como as Casas Bahia e o Ponto Frio já oferecem pagamentos por Pix desde o ano passado, inclusive nas lojas física. Recentemente, as empresas passaram a usar o Pix também para facilitar os acertos em casos de renegociação de dívidas. Já o Magazine Luiza oferece pagamentos via Pix em seu site e aplicativo, mas também investe em uma alternativa a ele. A empresa criou, dentro da Fintech Magalu, sistema de pagamentos que seria mais veloz e prático do que o Pix, porque não requer que o consumidor acesse aplicativo de banco ou copie e cole códigos de barras.

Esse seria um caso de que a história do Pix inspirou soluções alternativas. As transferências são feitas por meio do Iniciador de Transação de Pagamento, oferecido pelo Banco Central, para a integração dos sites e aplicativos de empresas de varejo com os sistemas bancários, no conceito de finanças abertas (open finance). O método de pagamento foi implementado no site KaBuM, que vende eletrônicos e foi comprado pelo Magazine Luiza em 2021 por cerca de R$ 3,5 bilhões. O Mercado Pago e as grandes varejista do País também já fazem testes com o iniciador de pagamentos.

O boleto ainda deve ter sobrevida conforme o Pix se tornar mais comum entre os brasileiros, mas pode se tornar uma opção de nicho. Além de reduzir a desistência de compras, o Pix deve ser estimulado por ter menores taxas para as varejistas do que outros meios de pagamento. Afinal, gerar boletos tem um custo para quem cobra.

Se algum colega seu reclamar do trabalho, numa segunda-feira de manhã, não responda dizendo “mas eu tenho boletos pra pagar”…vão achar que você está por fora.

Um abraço e até a próxima.