Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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As pessoas ainda escutam rádio na era da internet? Por que será que uma tecnologia centenária, de baixo custo, se mantém como fonte de informação e entretenimento no mesmo tempo em que Netflix, Tik Tok e Youtube dominam nossas telas sempre à mão? Enquanto se aproveita da evolução da tecnologia, o rádio se mantém para conectar os ouvintes com as vozes do presente.

Bom dia ouvintes da CBN,

Sim, muitas pessoas ainda escutam rádio, que, mesmo inventada no final do século 19, por um italiano chamado Marconi, é uma tecnologia do século XX. Rádios domésticos foram aparecendo, depois viraram portáteis, e, mesmo com a televisão, continuaram a evoluir, até as transmissões globais com satélites na década de 80. No século XXI, a internet facilita a transmissão, ao mesmo tempo que cria um mundo de distrações que ameaça, de forma significativa, a demanda por entretenimento e prestação de serviços por transmissões de rádio comercial.

Mas, sim, muitas pessoas ainda escutam rádio. Primeiro, porque existem muitas áreas no mundo com acesso limitado à internet, por mais que nossa cabeça urbana esqueça. Além disso, há atividades em que não é possível usar dispositivos eletrônicos, como dirigir. Além disso, muitas emissoras de rádio também oferecem suas transmissões online, permitindo que os ouvintes acessem o conteúdo de qualquer lugar do mundo, mantendo as pessoas conectadas em tempo real com uma ambientação que lhes é familiar e aconchegante.

Claro que as tecnologias de informação modernos afetaram de várias formas a atividade radiofônica. Hoje podemos escutar rádio de todo o mundo através de streaming na internet, sem restrições de local. Além disso, muitos dos programas são disponibilizados em gravação, para ouvir quando quiser. Certamente, as emissoras de rádio agora competem com uma variedade de outras fontes de conteúdo, como serviços de streaming de música e podcasts. Dentro da rádio, emissoras integram tecnologias em suas operações, como automação de programação, transmissão em HD e internet. Hoje já é lugar-comum transmissão ao vivo no Youtube, com imagens, de programas jornalísticos em rádio. Por fim, as emissoras de rádio também estão utilizando tecnologias para coletar e analisar dados sobre seus ouvintes e sua audiência, permitindo-lhes ajustar suas programações e publicidade de acordo com os interesses de seu público.

É verdade que, em alguns lugares e em alguns segmentos de público, as emissoras de rádio podem ter perdido audiência para outras fontes de conteúdo, como serviços de streaming de música, podcasts e mídias sociais. No entanto, isso não é verdade para todas as emissoras e para todos os públicos. Em muitas partes do mundo, as emissoras de rádio ainda são muito populares e têm grande alcance.

A internet, principalmente, continua forçando inovações, principalmente relacionadas aos podcasts e às mídias sociais. Eu mesmo aderi aos podcasts já tem uns dez anos, e hoje não consigo viver sem eles. O podcast é um formato de programa de áudio distribuídos por meio de plataformas online e podem ser ouvidos a qualquer momento, em qualquer lugar; podem ser entrevistas, conversas, monólogos, documentários, histórias contadas em episódios, entre outros. Os ouvintes geralmente se inscrevem em um podcast para receber automaticamente os novos episódios assim que são lançados, usando um aplicativo de podcast em seus dispositivos móveis ou desktop. O termo “podcast” é uma combinação de “iPod” e “broadcast” (transmissão, em inglês), referindo-se ao fato de que, originalmente, os ouvintes precisavam de um iPod para ouvir o conteúdo, mas agora é possível ouvir em vários dispositivos. Desde a sua criação em 2004, os podcasts se tornaram cada vez mais populares em todo o mundo, oferecendo aos ouvintes uma maneira conveniente e flexível de consumir conteúdo de áudio.

Ok, gostamos do conteúdo em áudio, e temos os podcasts, que nos permite escolher o que ouvir em qualquer hora. Por que então o rádio resiste a tantas opções aparentemente mais atrativas? Acho que o principal é a informação atualizada e relevante em tempo real, principalmente quando se trata de notícias. Mais, o programas de rádio ao vivo oferecem aos ouvintes a oportunidade de interagir com os apresentadores e outros ouvintes em tempo real, por meio de chamadas telefônicas, mensagens de texto ou mídias sociais. Outra coisa inigualável é o acompanhamento de eventos, principalmente esportivos. Torcedores de futebol não deixam o rádio por outra coisa.

#escolhas Talvez o grande trunfo do rádio e da TV também é diminuir nossas escolhas. Mas como? Deve ter ficado maluco, foi o que você pensou, né? O fato é que nos serviços de streaming na TV ou nas listas de podcasts, é frequente a reclamação de pessoas que dizem experimentar o tal paradoxo da escolha, em que quanto mais opções, menos me sinto à vontade para escolher algo. Com tantas opções de conteúdo na internet, pode ser difícil escolher o que consumir, e os usuários podem se sentir sobrecarregados, ansiosos ou insatisfeitos com suas escolhas. Na verdade escolher o que assistir envolve um certo esforço cognitivo, que exige energia, e cansa. Ás vezes, quando estou cansado e ligo no Netflix, fico por um tempão navegando no menu, sem conseguir escolher algo para assistir, em meio a um catálogo que parece infinito. O paradoxo da escolha foi inicialmente proposto por Barry Schwartz, um psicólogo americano, em seu livro “The Paradox of Choice: Why More Is Less”. Schwartz argumenta que a sociedade moderna oferece uma abundância de opções em todas as áreas da vida, desde a escolha de alimentos, roupas e produtos eletrônicos até decisões mais significativas, como carreira e relacionamentos. Embora muitas opções possam parecer boas em teoria, Schwartz argumenta que, na prática, elas podem levar a sentimentos de sobrecarga e insatisfação.

Nesse contexto, o rádio traz alívio. No carro, fazendo alguma coisa em casa, talvez em meio a uma leitura leve, ou no estupor antes de tirar um cochilo. Alívio que vem da familiaridade com locutores, repórteres, comentaristas, pessoas que acabamos considerando próximas, por estarem com sua voz, diariamente, aqui do lado, ao mesmo tempo, vivas. Uma voz do presente.

Uma abraço e até a próxima.