Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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smartphone fixo?

Comentário: mais sobre roubos e operações bancárias Data: May 11, 2022 Palavras chave: iphone, segurança

Assaltos crescem nas regiões metropolitanas. Consumidores precisam ‘se virar’ para proteger aplicativos de bancos e redes sociais. Algumas pessoas estão até inventando o ‘smartphone fixo’, só pra operações bancárias. O que será preciso pra diminuir a insegurança digital?

Resumo:

Quanto mais praticidade no uso do smartphone, mais inseguro ele fica. Afinal, quem quer ficar lembrando de digitar senha toda vez que abre um aplicativo? Mesmo com o cuidado que devemos ter para proteger nossos dados financeiros, ainda há muito o a ser feito por todos os envolvidos no ecossistema digital. Vamos discutir alguns desses problemas.

Bom dia ouvintes da CBN,

Quando a gente adquire um smartphone, esperamos que ele nos ofereça várias funcionalidades e comodidades. Duas delas estão entre as mais importantes:a praticidade, de acessar os principais aplicativos rapidamente, com o mínimo de obstáculos, e outra é a segurança, já que queremos estar protegidos num eventual roubo ou furto do aparelho. Infelizmente, o mundo é cruel, parece impossível ter as duas coisas ao mesmo tempo. Na realidade, quanto mais fácil de usar o seu smartphone, menos seguros estarão seus dados e suas contas bancárias. Não há muito o que fazer para eliminar essa dualidade. Mesmo assim, é possível agir para que haja um equilíbrio. Para isso, vários lados envolvidos nessa questão precisam agir com competência para que as promessas da tecnologia não sejam acompanhadas de uma fragilização da segurança.

Em várias das maiores regiões metropolitanas brasileiras, tem-se falado muito sobre isso: o aumento dos furtos de smartphone. Os cidadãos estão com medo de usar o smartphone no banco de trás de carros, pois uma mão misteriosa de fora do carro pode surgir a qualquer momento para “catar” o aparelho para imediatamente fazer transações financeiras.

Num dos casos mais recentes, um morador de São Paulo teve prejuízo de mais de R$ 140 mil, depois de ter tido seu smartphone roubado de dentro de um Uber, quando o aparelho estava sendo usado, ou seja, desbloqueado. Os criminosos rapidamente movimentaram diversas contas em bancos tradicionais e até mesmo fintechs, que teoricamente deveriam estar mais bem preparadas para lidar com os desafios do universo digital. A situação só foi resolvida depois que o absurdo se tornou público, com milhares de likes e comentários nas redes sociais.

O consumidor se sente sozinho, ameaçado pela criminalidade e abandonado pelas organizações que deveriam protegê-lo. Ele precisa se precaver com a adoção de medidas que diminuem a conveniência de utilizar o smartphone. Tem gente que chegou ao cúmulo de adotar o “smartphone fixo”, que permanece em casa com aplicativos que mexem com dinheiro. Isso mesmo, a pessoa usa um smartphone mais antigo, com uma bateria já ruim, dentro de casa, e só nele tem os aplicativos de banco instalados. Ou seja, só dá pra fazer pix quando se está em casa, e assim 80% da praticidade dos pagamentos se contato se perde.

Em geral, as pessoas recorrem às ferramentas digitais dos próprios celulares para tentar se resguardar. Um dos grandes mistérios tem a ver com a biometria: até agora ninguém conseguiu explicar exatamente como os bandidos conseguem burlar essa forma de autenticação para movimentar somas financeiras.

Alguns especialistas sugerem que os usuários não estão adotando todas as defesas digitais. No entanto, cabe ponderar que são muitas as nossas preocupações na rotina… fica inviável lembrar de todas as etapas para desbloquear e utilizar o aparelho tão importante pras nossas tarefas.

Fica claro que tem muita coisa errada, em vários dos lados envolvidos. No caso dos bancos, muitos têm falhado em agir rapidamente para travar as transações. Há diversos relatos de clientes que entraram em contato e pediram bloqueio dos cartões e das contas bancárias, mas que, mesmo depois deste aviso, os bandidos ainda fazem pagamentos de boletos e transferências estranhas. Tanto se fala da inteligência artificial, mas parece que, em certos momentos, ela não está sendo usada da forma mais trivial. Será que não dá pra rejeitar pagamentos para destinatários nunca agraciados antes, em valores 30 vezes maiores do que o habitual?

Em relação às operadoras de telefonia, a reclamação é que elas têm demorado muito para bloquear o chip. Algumas vítimas dizem que o procedimento leva de quatro a seis horas, quando deveria ocorrer em questão de minutos, segundos. É essencial tirar do criminoso a possibilidade de acessar a rede de telefonia. Desconectar a linha de celular impede o recebimento das mensagens SMS com códigos para verificação em duas etapas.

Já as fabricantes de smartphones parecem preocupadas com o desenvolvimento de novas ferramentas que atraiam os compradores, mas pouco se traz de novidade na relação com a segurança. As novidades incluem frequentemente novas câmeras, baterias mais longevas e durabilidade de telas, mas, talvez por não atrair tanto o público, ninguém vê na propaganda do novo Smartphone que ele traz algo que o deixa mais seguro.

Diante deste cenário pouco animador, o ônus parece que fica sempre com o usuário; quem pode, deixa o tal smartphone fixo em casa para transações bancárias. Tem gente que instala um app com senha extra para aplicativos bancários, como o Pasta Segura, nos smartphones da Samsung. Já que vários aplicativos que guardam informações pessoais tendem a ir para o lado da praticidade, cabe ao usuário modificar as opções padrão para tentar obter mais segurança. E mesmo assim, pode nem ser possível, como é o caso dos aplicativos de e-mail. No iPhone, por exemplo, você precisa mexer em configurações razoavelmente complicadas para obrigar o aplicativo do Gmail a pedir uma senha a cada intervalo de tempo, pois o aplicativo, por padrão, não oferece.

Eu poderia dar mais algumas dicas de como se proteger melhor, já que a cada dia aparece uma nova modalidade de roubo. Mas, confesso, já estou cansado, e você também já deve estar cansado de tanto golpe novo. O que precisa de verdade: o poder público e as empresas envolvidas nesse ecossistema digital se unirem para pensar soluções em conjunto. É necessário um movimento de combate à criminalidade em todas as pontas: desde o assalto físico, passando pela receptação, até as ações de proteção nos sistemas. Para que o lado mais fraco, a vítima, não sofra as múltiplas punições a que já está se acostumando.

Um abraço e até a próxima.