Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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Instagram, Twitter, Facebook, Youtube. Você pode ficar mudando de aplicativo, de rede social, mas fica aquela impressão estranha de que tudo parece a mesma coisa. O modelo TikTok parece aquele que o mercado definiu como sendo o mais lucrativo, e todo mundo está imitando. Observando essa tendência, a coluna tenta fazer um exercício de futurologia e discute os prováveis próximos passos nessa guerra pela engajamento do usuário.

Não interessa se estou no insta, no youtube, no Face; todos eles tem um jeito de tiktok, com vídeos curtos infinitos sugeridos por inteligência artificial. Será que essa é a tendência, a tiktokização das redes?

Bom dia ouvintes da CBN,

A linha do tempo, o u o feed, das redes sociais, parecem criados pela mesma pessoa. Em vez de usar aplicativos separados para amigos, família, notícias, cultura e diversão, todos oferecem conteúdo do mesmo jeito. Abra qualquer um desses, e provavelmente você vai deparar com vídeos verticais intermináveis, certamente gravados por pessoas que você não segue. O conteúdo é tão igual que é fácil esquecer em que aplicativo você está naquele momento.

A homogeneização das mídias sociais é o resultado do sucesso do TikTok, em que recomendações baseadas em aprendizado de máquina mataram o modelo anterior de ver conteúdo de quem eu sigo. Vídeos curtos com legendas, compostos de cortes e que apenas rolando a tela aparecerá um novo vídeo, além da utilização de algoritmo personalizado para cada usuário, são as principais características.

Para você que conseguiu ficar de fora da onda do TikTok, um singelo resumo: os usuários criam vídeos de até 60 segundos com música e efeitos especiais. A plataforma é conhecida por sua comunidade de dançarinos, comediantes, músicos e muito mais. O algoritmo da plataforma é projetado para exibir conteúdo personalizado com base nas preferências dos usuários, tornando-a altamente viciante. A empresa-mãe do TikTok, a ByteDance, tem hoje valor de mercado estimado em mais de US$ 100 bilhões.

O Instagram, por exemplo, lançou o “Reels”, um recurso que permite aos usuários criar vídeos de 15 segundos com música e efeitos especiais. O YouTube também lançou seu próprio recurso de curta duração chamado “Shorts”, que apresenta vídeos verticais de até 60 segundos. O Snapchat, que foi pioneiro no formato de vídeo curto, está investindo em seu recurso “Spotlight” para competir com o TikTok.

A partir do momento que todos os aplicativos parecem o mesmo, vamos acabar tendo algum deles vencedor e dominador do mercado. Hoje vou fazer um exercício de futurologia, e fazer um apanhado do que se anda escrevendo sobre o futuro das mídias sociais a partir da TikTokzação no modelo atual.

Lembra quando as redes sociais eram pra seguidores? Você podia usar diferentes redes para seguir pessoas de segmentos diferentes. Por exemplo, o facebook para coisas da família, twitter para notícias, entrenimento no instagram. Um feed pra cada coisa. Quando praticamente todas essas redes substituem o modelo de seguidores, servindo você com o conteúdo sabe-se lá de quem, porque você deverá gostar, acaba-se o modelo de segmentação.

Assim, talvez não haja espaço para várias redes e suas diferentes especialidades. Todos os aplicativos estão botando seus algoritmos de aprendizado em cima da mesma base de conteúdo, e um grande vencedor disso tudo vai acabar aparecendo. Se um desses for um pouquinho melhor, vai atrair mais usuários, gerando mais dados para treinar seus programas, gerando recomendações melhores e atraindo os influenciadores mais populares. No longo prazo, quem ficar para trás vai acabar morrendo.

Talvez cheguemos ao que já existe na China, por exemplo, os aplicativos TUDO, do qual não sairemos mais, fazendo compras, conversando com outros, trabalhando, se entretendo…

Algo que está prestes a acontecer deve mexer profundamente no mercado. O aplicativo TikTok está em vias de ser banido nos EUA, por causa da desconfiança do governo americano de que a China anda recebendo os dados de uso dos EUA. Problemas geopolíticos à parte, há um tácito entendimento de que o TikTok é substituível. Por não ser baseado fortemente em redes de seguidores (o que chamamos de grafo social), aplicativos com abordagens similares, como é o caso hoje, podem fazer praticamente o mesmo.

E a publicidade, praticamente a única fonte de receita das redes sociais, como vai se posicionar diante deste cenário? Anunciantes adoram padronização, pois assim eles sabem quanto pagar e o que criar com antecedência. Como o formato TikTok tomando conta de tudo, deve ser lá mesmo onde eles vão colocar o grosso dos orçamentos de marketing, dando ainda mais poder para quem ganhar o mercado das redes.

Outra coisa que provavelmente vai acontecer: os criadores de conteúdo exclusive serão super-valorizados, mais do que são hoje. As redes devem investir na diferenciação, já que o conteúdo vai ser praticamente o mesmo pra todo mundo. E vão entrar em leilão pelos influenciadores mais populares, exigindo deles exclusividade, ou seja, postar apenas no instagram, por exemplo.

E eu sigo agradecendo a CBN por não me obrigar a promover esta coluna nas quartas-feiras fazendo dancinhas no TikTok.

Um abraço e até a próxima,