Tiago Massoni

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Associate Professor in Computer Science

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As TVs 8k tendem a se popularizar como a tendência das televisões, mas a União Europeia disse não, por causa de consumo elevado de energia. Até onde a tecnologia vai evoluir com as dificuldades na geração de energia?

A União Europeia proibiu TVs 8K devido ao alto consumo de energia, potencialmente impactando o mercado global. As TVs com mais pixels consomem mais energia, e a restrição busca equilibrar progresso tecnológico e eficiência energética. Será que teremos que conviver com a desaceleração da evolução da tecnologia por dificuldade em gerar energia?

Bom dia ouvintes da CBN,

Todo mundo sonha, de tempos em tempos, trocar sua TV, por alguma novidade de última geração. Aquela que vai trazer maior nitidez para imagem, som de cinema, com tela grande para jogar videogame e assistir futebol. Hoje já muito popular o formato 4k, que define a quantidade máxima de pontos desenhados na tela. Como já é de se esperar, na fronteira da alta tecnologia alguns fabricantes de TVs já exploram coisa melhor, mais definição, mais qualidade, mais tudo - a natural evolução. Já existem as TVs 8k, trazendo o dobro de todas essas especificações, sendo apresentadas em feiras e vendidas, por preços caríssimos, em alguns dos grandes centros do mundo. Dessa vez, no entanto, alguns obstáculos modernos podem atrasar esse caminho natural a que estamos acostumados.

No início de Março de 2023, a união europeia baniu as TVs 8K. Isso pelo simples fato de que o consumo de energia do aparelho é alto demais, e passa do limite do regramento da região. Essas mudanças foram anunciadas em Outubro de 2022, baixando o consumo máximo de aparelhos de TV para 90W, e as TVs 8K estão consumindo, em média, mais que o dobro disso. Esse é um caso emblemático de como a evolução da tecnologia cada vez mais terá que considerar o impacto ambiental dos seus produtos, principalmente energia. Todos os continentes possuem suas limitações na geração de energia; na Europa, as preocupações são enormes, por causa da limitação de sua matriz de geração (por exemplo, pouca energia hidrelétrica), por causa das restrições sobre a geração nuclear, e a guerra da Ucrânia.

A medida deve impactar o mercado de eletroeletrônicos. E isso pode afetar parcialmente a disponibilidade do produto no Brasil, segundo especialistas. Apesar de a determinação ser impositiva apenas aos países que fazem parte do bloco, outros lugares podem sofrer com o desaquecimento da produção de televisores 8K em razão de a fabricação ser padronizada em escala global para reduzir os custos de produção às empresas.

A 8K Association, entidade que representa as gigantes dos eletroeletrônicos que fabricam aparelhos em 8K no mundo, alega que a quantidade de Watts permitida pela União Europeia inviabiliza a produção de televisores. Segundo a associação, nenhuma TV 8K atual pode atender a esse nível de eficiência de energia determinado pela UE, completou a entidade. Ou seja, os equipamentos precisariam ser adequados para a comercialização. Os fabricantes, por sua vez, estão tentando soluções alternativas. A Samsung, por exemplo, desenvolveu uma pequena gambiarra; suas TVs 8k começaram a ir para os consumidores com as configurações mais econômicas de fábrica (luz baixa, menor brilho e definição) - o que eles chamam de Eco Mode. Assim, eles estariam de acordo com a lei, no consumo padrão abaixo de 90W. Para especialistas, as empresas até têm capacidade para se adaptar dentro desse cenário com o tempo. Contudo, o setor de TVs de altíssima resolução deve sofrer atrasos em seus avanços. Os eletroeletrônicos custam menos se fabricados em grande escala. Num primeiro momento pode até aumentar o valor.

Por que as TVs 8K usam mais energia? A explicação está na quantidade total de pontinhos na tela para formar uma imagem, chamados de pixels. Para ter uma resolução melhor, a 8K milhares de pixels em largura e altura, um total de 33 milhões de pixels. Comparando, as TVs 4k de hoje tem por volta de 8 milhões de pixels. Com mais pixels necessários para a tela, as TVs 8K são comercializadas a partir de 55 polegadas. Quanto maior o tamanho da tela, maior o consumo de energia. Então por que não fazer 8K com telas menores? É que só se consegue perceber que uma resolução é 8K quando a tela é grande. Uma TV 8K abaixo de 55 polegadas não faz sentido.

Parece melhor esperar para comprar esses modelos, primeiro pelo preço. Estima-se que hoje no Brasil uma TV 8k custa de 6 a 9 mil. Também, precisamos saber se a produção vai ser afetada por essa restrição na Europa, ou talvez considerar que essa restrição pode chegar ao Brasil. Já o outro motivo é a oferta de conteúdos em 8K. No Brasil, por exemplo, não há produções audiovisuais nessa resolução. Nas transmissões de futebol, “cobaia” para novidades audiovisuais no país, o Brasileirão contou somente a partir deste ano com um jogo por rodada em 4K.

A matriz energética é uma questão crítica na evolução da tecnologia, concordam? Restringir o consumo pode acarretar problemas de desempenho, uma vez que o consumo de energia e o desempenho estão intrinsecamente ligados. Aplicações de alto desempenho, como jogos, simulações científicas e tarefas de inteligência artificial, frequentemente requerem mais energia para obter os resultados desejados. Limitar excessivamente o consumo de energia pode restringir o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Além disso, impor limites estritos ao consumo de energia pode dificultar a inovação, restringindo o espaço de design e tornando mais desafiador para os desenvolvedores criar soluções inovadoras.

É importante encontrar um equilíbrio entre a busca por eficiência energética e a capacidade de impulsionar o progresso tecnológico em áreas que demandam maior consumo de energia para atingir um desempenho otimizado.

Tem um potencial lado positivo nisso também. A demanda por menor consumo de energia impulsiona o desenvolvimento de tecnologias energeticamente eficientes, como processadores de baixo consumo, algoritmos eficientes e designs otimizados de hardware. Isso resulta em produtos com menor impacto ambiental, maior vida útil de bateria para dispositivos móveis e redução nos custos de eletricidade. A redução do consumo de energia também favorece a integração de fontes de energia renovável, como painéis solares e turbinas eólicas, no ecossistema tecnológico. Isso contribui para a redução da dependência de combustíveis fósseis e para um futuro mais sustentável.

A redução do consumo de energia é crucial para diminuir o impacto ambiental da tecnologia, minimizando emissões de carbono e o desperdício eletrônico. Eis que a realidade bate à porte. Teremos que considerar isso daqui pra frente.